Sabe quando o profissional de
saúde que está cuidando de você pede um exame? Pode ser de sangue, urina,
fezes, imagem ou qualquer outro tipo, mas você sempre quer saber se está
"normal" ou não. É um direito seu.
Saiba de uma coisa muito
importante: a posse do exame é SUA. De quem era o sangue? E o cocô? De quem
foi o pulmão radiografado ou o pâncreas "ultrassonografado"? Não
foi tudo seu? Então, inclusive pelo código de ética médica, o exame é seu.
Você tem todo o direito de abrir, ler, riscar, rasgar, tocar fogo ou coisa
pior... e pode, também, entregar para o profissional ler o resultado (essa é,
quase sempre, a melhor opção).
Só tem um problema é um só:
afinal de contas, em se tratando de resultados de exames, o que é normal?
Somos levados a crer que são os
valores dentro dos intervalos de referência, ou os "valores
normais" dos exames. Isso leva, tanto leigos quanto profissionais, a
cometer muitos enganos. Para que você entenda isso, vamos dar uma olhada no
conceito de NORMAL pelo dicionário Caldas Aulete:
(nor.mal)
a2g.
1. Que é natural ou
habitual (reação normal).
2. Que é segundo a norma ou
padrão
3. Que é usual, comum,
habitual, corriqueiro: "Mas não faz mal, é tão normal ter
desamor" (Antônio Carlos & Jocafi, Você abusou))
4. Mental e fisicamente
saudável (diz-se de pessoa).
5. Pop. Que não foge,
em termos de comportamento, à regra da maioria das pessoas
6. Fig. Que é social
ou moralmente aceitável: "Não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem
ser coisa normal" (MIlton Nascimento & Fernando
Brant, Bola de meia, bola de gude))
7. Diz-se de pele, cabelo
etc. que não é seco nem oleoso
8. Diz-se de curso do
ensino de nível médio para formação de professores primários.
sm.
9. Esse curso.
10. Pessoa normal (4):
"Eu juro que é melhor/ Não ser um normal" (Rita Lee
& Arnaldo Baptista, Balada do louco))
sf.
11. Geom. Reta
perpendicular à curva ou superfície.
[Pl.: -mais.]
[F.: Do lat. normalis, e.]
Ufa... Pronto! 11 referências. É
um termo sujeito a diversos pontos de vista. OK. Vemos normal como natural,
habitual, padrão, norma, usual, corriqueiro... até mesmo em uma referência a
saudável, referindo-se a uma pessoa, mas observe:
EM ALGUM LUGAR VOCÊ LEU QUE
NORMAL É "O CORRETO"?! Sei que não.
Você não leu, simplesmente,
porque não é o caso. O normal, das faixas de referência dos exames, em
geral se refere à frequência de um resultado em uma população e precisa,
inclusive, muitas vezes ser "regionalizado" para servir como
referência que valha. Isso significa que "o normal" pode variar de
país para país, região para região, povo para povo. Isso significa, também,
que o normal é, em boa parte dos exames, o que "normalmente
ocorre", e não o que seja ideal ou perfeito para cada pessoa.
Este "normal" é
relativo!
A avaliação de um exame
complementar vai muito além da simples comparação dos resultados a tabelas e
faixas numéricas. É necessário ponderar os resultados e, não raro, relacionar
vários resultados entre si para chegar a uma conclusão realmente útil. Isso
tudo tem um motivo muito simples: nosso organismo é composto por muitos
sistemas menores que se integram em um sistema maior. Nosso corpo é um
complexo de inter-relações e precisa ser avaliado assim.
Também precisamos considerar
que, já que as faixas de "normalidade" geralmente têm mais relação
com a frequência de uma faixa de resultados do que com estes serem ideais ou
não, muitas vezes o ideal para um paciente será um valor específico, ou faixa
de valores, dentro desta faixa. Por exemplo, apesar dos valores para insulina
sérica em jejum terem como "faixa normal" valores entre 2,5 e 25,
eu sempre vou preferir que um paciente meu apresente um valor inferior a 10
ou, até mesmo, a 8, pois são valores que demonstram um sistema de resposta
insulínica mais saudável, na presença de uma glicemia dentro do desejável.
Por conta de tudo isso que eu
citei acima, lembre que o exame é seu, mas a leitura dos resultados é muito
mais complexa do que parece. Se você é impressionável, talvez valha a pena
não ler nada mesmo e esperar para o profissional de saúde avaliar tudo e
esclarecer.
Não vá se jogar do banquinho
embaixo, certo? Peça esclarecimento. Pode ser que seja tudo normal.
Normalmente.
Dr Adolfo Duarte - CRM-BA 15.557
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