terça-feira, 1 de novembro de 2011

A origem da vida e o meio interno


Os primeiros animais se desenvolveram a partir da água do mar e foram necessários bilhões de anos para evoluírem de organismos unicelulares aos animais que conhecemos hoje. Muitas estratégias para assegurar sua sobrevivência foram aperfeiçoadas durante o processo evolutivo. A nutrição foi o ponto-chave para o desenvolvimento dos organismos complexos: como assegurá-la a cada célula? Imagine uma única célula, banhada pela água do mar; é desse meio que retira os nutrientes de que necessita; também é esse meio que recebe os produtos de excreção dessa célula, livrando-a das toxinas.

A vida, desde o princípio, dependeu de mecanismos que mantivessem, sob estreitos limites, o seu pH interno, sua concentração de minerais e sua temperatura. As células mais hábeis sobreviveram e somos todos, de alguma maneira, descendentes destas células.

Há cerca de 700 milhões de anos, os primeiros animais evoluíram na água a partir de células globulares. Essas massas de células ganharam crescente complexidade, formando animais cada vez mais sofisticados, mas com a mesma necessidade da célula individual: sobreviver às alterações do meio ambiente.

As adaptações evolutivas foram de proporções vertiginosas e exigiram mudanças drásticas em todos os seus sistemas até se chegar aos animais como os conhecemos; os vertebrados apareceram há 500 milhões de anos, os primeiros primatas há 65 milhões e o homem há 4 milhões. Dentre os vários problemas a serem resolvidos (excesso de oxigênio, proteção à luz do sol, músculos para sustentar o peso do corpo na terra), um deles foi como levar o meio ambiente externo – o mar – para cada célula. Se existimos, a solução foi encontrada; até hoje, a concentração de sais em nosso sangue e de outros fluidos corporais é notadamente semelhante à do oceano. Até mesmo o útero animal simula a umidade, a flutuabilidade e a salinidade do velho meio ambiente marinho. Saímos do oceano há mais de 400 milhões de anos, mas nunca deixamos para trás a água do mar.

Se hoje estas ideias são amplamente aceitas, é devido ao trabalho de um inovador cientista francês, René Quinton, que em 1897 formulou um princípio novo: a vida animal, que apareceu no mar, apesar das variações dos diferentes habitats ao longo da história, tende a manter, através da evolução, as condições de suas origens. Ao invés de obedecer passivamente à influência do meio ambiente, a vida resiste a estas modificações. As formas anatômicas mudam para ajudar a manter a temperatura e a concentração salina do meio marinho original.

Seja qual for a posição que ocupe na escala animal, o ser vivo segue como um autêntico aquário marinho, onde as células que o constituem continuam vivendo nas mesmas condições aquáticas em que vivia a célula primitiva; a forma primordial da vida.

Esse nosso oceano interno é o que chamamos de meio ou matriz extracelular, que banha nossos trilhões de células e que precisa estar equilibrado para sobrevivermos. É através desse fluido que ocorre toda a intercomunicação entre as células e cada nutriente deve chegar por este fluido antes de atravessar a membrana celular.

Toda alteração da matriz extracelular altera a nutrição celular. Assim, a enfermidade aparece como uma alteração deste meio essencial e a terapêutica eficaz deve ter, como principal objetivo, reconstituir sua fisiologia. Os estudos de Quinton culminaram na criação do plasma de Quinton, que nada mais é do que água do mar, retirada de uma profundidade adequada (30 metros) e de um local específico: a costa do sul da França, no Canal da Mancha. Este local abriga grandes quantidades de plâncton aglomeradas em redemoinhos chamados de vórtices, visíveis desde o espaço. Posteriormente, é microfiltrada a frio, mantendo intactas todas as suas características bioquímicas, o que corresponde, a cada litro, uma média de 300 miligramas de derivados pré-bióticos de carbono, como aminoácidos, minerais, vitaminas etc. Os íons são transformados pelo fitoplâncton e zooplâncton resultando em elementos sinérgicos, em perfeita simbiose natural com nosso organismo.

A saúde de cada célula depende da saúde da matriz extracelular. Cada célula contém seu próprio material genético que, para atuar, depende da constante interação com os elementos dispersos pela matriz extracelular. Uma mudança no meio extracelular tem a habilidade de se dirigir à célula e induzir a fabricação de 2.000 ou mais proteínas diferentes de um único gene. Este conceito é uma mudança fantástica na maneira como entendemos o funcionamento de nosso organismo. Enquanto o DNA é importante para o funcionamento e a saúde de cada célula, a operação desta célula é moldada pela interação com o meio que a circunda e não somente pelo código genético.

Para entender melhor a dimensão desse conceito, nosso DNA possui 30.000 genes, dos quais 18.000 não têm função definida e são chamados "genes silenciosos" ou "pseudogenes". Alguns são obsoletos remanescentes evolutivos, mas por outro lado, muitos deles são responsáveis por informar aos genes próximos a eles como se comportar perante um agente estressor interno ou externo, ajudando-os a responder rapidamente às circunstâncias. Esses genes silenciosos interagem sinergicamente com os minerais presentes no meio extracelular que adentram as células.

Nesse mundo microscópico, coisas minúsculas se agigantam. Um bilionésimo de um grama (nanograma) de uma substância contém 2,5 bilhões de átomos; um a dez átomos são suficientes para ativar uma enzima. Podemos inferir sobre o que acontece em nosso corpo ao analisarmos o mundo bacteriano.

São necessárias somente duas moléculas por célula para alterar a expressão genética de uma bactéria. Células bacterianas são menores que as células humanas – digamos 100 vezes menor – o que significa que são necessárias 200 moléculas, ou se formos otimistas, 1.000 moléculas para alterar a expressão genética.

Para se ter uma ideia de como pequenas coisas podem parecer sem importância, mas têm profundo impacto à luz da química molecular: em ciência, há um número especial – seis seguido de vinte e três zeros, chamado Número de Avogrado – que é o número de moléculas contido no número de gramas de uma substância equivalente ao seu peso molecular.

Vejamos agora o que isso significa no caso de uma substância tóxica, digamos o óleo de milho parcialmente hidrogenado que encontramos nas prateleiras do supermercado. Quantas moléculas há em um litro de óleo milho? O peso molecular de uma molécula de óleo de milho é cerca de 1.000. Um litro de óleo (1.000 gramas) contém cerca de 6 seguidos por 23 zeros moléculas. É um número estonteante! Quantas moléculas de óleo existem em 1 colher de sopa? Há cerca de 100 colheres de sopa em um litro de óleo. Para ter o número de moléculas em 1% de óleo, você corta dois zeros dos 23, o que nos dá 6 seguidos de 21 zeros. Ainda um número estonteante. Se o processamento industrial do óleo danifica 1% do óleo, significa que podemos cortar mais 2 zeros, o que nos deixa com 60.000.000.000.000.000.000 que é o número de moléculas tóxicas em uma colher de sopa de óleo de cozinha. Se há 30 trilhões de células em nosso corpo, significa que uma colher de sopa de óleo fornece para cada uma de nossas células 2 milhões de moléculas tóxicas. E muitas pessoas consomem duas ou três colheres ao dia; e se o óleo for usado em frituras o dano é ainda mais extenso.

Se as implicações na saúde do desequilíbrio nutricional do meio extracelular leva ao adoecimento, pois o bem-estar físico, mental e emocional depende de sua vitalidade, ao mesmo tempo, pequenas ações que restaurem a saúde do meio que banha as células restabelecem o equilíbrio perdido e produzem grandes efeitos no metabolismo celular.