Que a prática de exercícios físicos é benéfica na prevenção de doenças
cardiovasculares, como enfarte do miocárdio, hipertensão arterial e aumento do colesterol,
já era de conhecimento geral. A dúvida, no entanto, ficava sobre o que
acontecia com o LDL, chamado de colesterol ruim, causador de diversos males ao
ser humano. Um trabalho apresentado no 60° Congresso da Sociedade Brasileira de
Cardiologia abre espaço para esta discussão e pode ser um pontapé para acabar
com os questionamentos sobre o assunto.
O estudo que traçou um paralelo entre os exercícios físicos e a redução
do colesterol foi realizado por uma equipe do Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas de São Paulo (INCOR). "Os
músculos, ao serem estimulados com a atividade física, vão consumir o
colesterol LDL", explica José Antônio Ramires, diretor geral do INCOR,
que também apresentou a pesquisa no Congresso Europeu de Cardiologia, ocorrido,
na Suécia.
Essa foi a primeira vez que um estudo revelou que a prática de
exercícios físicos auxilia na queima do colesterol. O resultado do trabalho é
animador, mas deve ser visto com cautela, sobretudo pelos frequentadores
assíduos de academias. No entanto, a pesquisa serve como um estímulo às pessoas
que possuem nível elevado de colesterol e não praticam nenhum tipo de
exercício.
Como relata Ramires, o trabalho foi simples e envolveu 18 pacientes.
Após a escolha dos participantes, foi medido o nível de colesterol LDL em cada
um. Em seguida, as sessões de exercícios e novas medições foram feitas. Nessas
análises verificou-se que houve uma rápida redução do nível de LDL no sangue
desses pacientes. "O exercício obrigava os músculos a consumir LDL",
informa.
SÓ O EXERCÍCIO NÃO RESOLVE
O especialista em cardiologia esportiva Nabil
Ghorayeb, que é chefe da seção de Cardiologia do Esporte do Instituto Dante
Pazzanese e também do Hospital do Coração, em São Paulo, vê os resultados com
cautela. Ele lembra que estudos recentes apontaram que o nível de colesterol
bom, o HDL, se eleva pouco para quem pratica exercícios há um bom tempo e que o
nível de LDL diminui menos de 10% em longo prazo.
A avaliação de Ghorayeb é importante, pois
ainda não existe no mundo nenhum estudo com uma amostra grande de pessoas que
tenham, por meio da atividade física, sanado o problema do colesterol. "É
preciso frisar também que o exercício tem que ser regular e moderado, por no
mínimo 14 semanas. O indivíduo, principalmente aquele que nunca praticou esportes,
não pode aderir imediatamente à atividade de forte impacto", avisa o
cardiologista.
Diante do quadro levantado por ele, vale
ressaltar ainda a combinação de três pontos: prática de exercício regular e
moderado, alimentação saudável, e, quando necessário, administração de
remédios. "Não adianta sair fazendo qualquer tipo de esporte e achar que
estará protegendo o coração, pois não estará. Se fosse assim, não teríamos
praticantes regulares de atividades físicas enfartando", finaliza Ghorayeb.
FATORES DE RISCO
Um estudo intitulado "Interheart" apontou
o colesterol LDL elevado como um dos principais fatores de risco para o enfarte
do miocárdio no mundo. Além do colesterol, a pesquisa mostrou que os demais
complicadores são: tabagismo, estresse, diabetes, hipertensão arterial e
obesidade abdominal. Do outro lado, o trabalho apontou como fatores de proteção
a atividade física, o consumo diário de frutas e verduras e a ingestão moderada
de bebidas alcoólicas.
Profissionais da área médica atestam que controlando
esses fatores, combate-se em 90% as doenças do coração. O
"Interheart" foi financiado por diversas instituições de todo o mundo
sob a coordenação de Salim Yusuf, da Universidade de McMaster, do Canadá.
O QUE É O “MAL COLESTEROL”
O LDL é algo similar à gordura presente no
sangue. Ele pode ser fabricado no fígado ou originado pelos vários alimentos
consumidos. O nível elevado desse tipo de colesterol pode se acumular nas
artérias causando, entre outras coisas, ataque cardíaco, derrame e enfarte.
O colesterol elevado não apresenta sintomas,
daí a importância de conhecer o nível de LDL, já que existe tratamento eficaz.
As sociedades de Cardiologia Norte-Americana e Brasileira recomendam que todas
as pessoas a partir dos 20 anos façam a medição do perfil lipídico, ao menos
uma vez a cada cinco anos.
Nível de colesterol total recomendado pelas sociedades de cardiologia:
Desejável: menor que 200 mg/dl
Limite: entre 200 e 239 mg/dl
Elevado: superior ou igual a 240 mg/dl
Fonte: Agência Estado*
*** O texto acima é de responsabilidade do autor. Para dúvidas sobre o conteúdo do texto, deixe seu comentário ou entre em contato com o autor através dos contatos disponibilizados em sua assinatura.