Os alunos que fazem
exercício físico têm melhores resultados escolares, conclui uma investigação
junto de três mil alunos realizada, ao longo de cinco anos, por uma equipe de
investigadores da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de
Lisboa (FMH/UTL).
Os jovens com aptidão
cardiorrespiratória saudável tiveram um maior somatório das classificações a
Português, Matemática, Ciências e Inglês.
Luís Sardinha, diretor do Laboratório Exercício e Saúde, da FMH, afirma que
existe "a tendência para sobrevalorizar a parte biológica" dos
benefícios do exercício físico. E este estudo também os comprova, evidenciando,
por exemplo, que "os alunos insuficientemente ativos", ou seja, que
não cumprem as recomendações de atividade física diária (pelo menos 60 minutos
por dia de atividade física moderada e vigorosa), têm maior probabilidade de
serem pré-obesos ou obesos, que os jovens cuja aptidão cardiorrespiratória é
saudável, decorrente do exercício, têm mais massa óssea, e os que não a têm
tendem a ter uma saúde vascular pior.
Mas, para o coordenador do estudo, o resultado mais inovador desta investigação
- feita em parceria com o Ministério da Educação e Ciência (MEC) e a autarquia
de Oeiras - é o demonstrar que o aumento da atividade física tem reflexos
"na parte psicológica, uma dimensão que tem sido menos estudada",
nota. "Face à dimensão da amostra", o investigador admite que os
resultados possam ser extrapolados para a população escolar.
O chamado Programa Pessoa, co-financiado pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT), estudou durante cinco anos (começou em 2007) três mil alunos
de 13 escolas do conselho de Oeiras, usando desde acelerômetros, instrumentos
que os alunos usavam na cintura para medir os seus tempos sedentários e ativos;
ecografias para medir a espessura das camadas da artéria carótida; cronômetros
para medir a performance cardiorrespiratória dentro de um determinado circuito
com cadência progressiva.
O que se concluiu é que os alunos da 3a série com aptidão cardiorrespiratória
saudável têm melhores classificações a Matemática e a Língua Portuguesa e que,
no geral, os alunos com aptidão cardiorrespiratória saudável têm um maior
somatório das classificações a Português, Matemática, Ciências e Inglês. Ou
seja, o exercício físico tem efeito positivo no aproveitamento escolar, uma
conclusão que estava sobretudo estudada em idades mais novas, nota.
"Esta linha de investigação vem demonstrar a importância do jogo e
atividade física informal e organizada para todas as crianças em contexto
escolar", defende Carlos Neto, presidente da FMH/UTL.
Mais autoestima
A explicação para este efeito foi já estudada noutras investigações: "o
exercício promove a formação de novos neurônios e uma maior interação entre
neurônios, que, por sua vez, promovem maior sensibilidade e desenvolvimento
cognitivo".
Mas não só. É sabido que a adolescência é uma idade turbulenta, tendencialmente
acompanhada pela diminuição de indicadores ligados à qualidade de vida, refere
o investigador. O que este estudo também permitiu concluir é que, aumentando a
atividade física, cerca de uma média de duas horas por semana, melhoraram
indicadores como "a autoestima, afetos positivos, competência, autonomia,
relacionamentos positivos e boas motivações". Pelo contrário, constata-se
que os jovens que fizeram menos exercício desceram nestes indicadores.
Além da produção de resultados estatísticos, o Programa Pessoa esteve no
terreno para tentar mudar comportamentos em termos de exercício físico e
nutrição, dando ações de formação a professores das várias disciplinas, e
produzindo quatro manuais. Nos alunos que revelam maior apetência para a prática
desportiva, "um dos objetivos do programa foi criar uma porta de entrada à
maior participação desportiva".
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