A inatividade é uma característica das sociedades
modernas, em que o progresso e a tecnologia afastaram a necessidade da
atividade física, antes fundamental para a sobrevivência do ser humano.
A associação entre o sedentarismo e a ocorrência de
doenças cardiovasculares já foi estabelecida há quase 5 décadas, tendo sido
demonstrada uma clara relação de dose e efeito entre a prática de atividades
físicas e a ocorrência de eventos coronarianos fatais e não-fatais (p. ex.:
infarto do miocárdio, angina do peito, morte súbita, etc.). O tipo de atividade
física parece ter pouca relevância na obtenção desse efeito, importando mais o
gasto calórico dispendido.
Á medida que aumenta o gasto calórico, diminui
progressivamente o risco de um problema cardiovascular. Um gasto calórico
superior a 2000 kcal por semana através de exercícios parece não adicionar
nenhum benefício na prevenção de coronariopatias. A proteção do exercício se
manifesta somente naqueles que estão se exercitando regularmente.
O fato do indivíduo ter sido um grande atleta no
passado não confere proteção caso ele tenha voltado a ser sedentário. Ou seja,
"exercício não é vacina", que é feita uma vez na vida e a proteção
dura para sempre. A chave é manter-se sempre em atividade. As razões exatas
para o efeito protetor do exercício regular não são ainda totalmente
compreendidas, mas, com certeza, o efeito sobre alguns dos fatores de risco
tradicionais é parte importante dessa proteção.
Fatores de Risco para Doença
Cardiovascular
Os fatores de risco para doença cardiovascular são os
principais responsáveis pelo desenvolvimento das placas de aterosclerose, que
entopem as artérias. Dentre os fatores de risco tradicionais, o exercício
regular é capaz de influenciar positivamente o perfil lipídico, a obesidade, a
resistência à insulina e a hipertensão arterial.
Em relação ao perfil lipídico, ele promove o aumento
das lipoproteínas de alta densidade, consideradas como sendo o "bom
colesterol" (HDL - colesterol), que é capaz de retirar a gordura que
deposita-se no interior das artérias, gerando as placas de aterosclerose. Ele
diminui os níveis de triglicerídios e o efeito deletério das lipoproteínas de
baixa densidade, também chamadas de "mau colesterol" (LDL - colesterol), responsáveis pelo depósito de gordura dentro
das artérias.
Parte do efeito obtido pelo exercício passa pelo
controle da obesidade. Os indivíduos que aderem a um programa de exercícios,
além de gastarem mais calorias, eles demonstram maior capacidade em seguir uma
dieta alimentar, facilitando a perda de peso. Nos adultos, o desenvolvimento de
Diabete Melito ocorre pela resistência ao efeito da insulina e não pela falta
dela. A insulina disponível, em quantidade suficiente, não consegue fazer com
que a glicose (açucar) penetre nas células e possa ser metabolizada.
O exercício diminui essa resistência à ação da
insulina, facilitando a entrada da glicose na célula e retardando o
aparecimento do quadro de Diabete Melito. Nos indivíduos que apresentam aumento
sustentado da pressão arterial e começam a exercitar-se, observa-se discreta
redução dos níveis pressóricos, que, em alguns casos, permite a redução, ou
mesmo a suspensão da medicação anti-hipertensiva.
Arritmias Cardíacas
A ocorrência de descompassos no ritmo cardíaco,
conhecidos como arritmias cardíacas, podem ser, tanto destituídos de qualquer
significado clínico, como, em casos especiais, podem representar uma ameaça à
vida. Um dos fatores responsáveis pela ocorrência dessas arritmias é a
liberação de grandes quantidades de adrenalina durante momentos de grande
tensão emocional ou durante exercício físico intenso e abrupto.
O treinamento físico diminui a quantidade de
adrenalina que é liberada durante situações críticas, reduzindo o impacto sobre
o coração. Um sedentário tem 100 vezes mais risco de ter uma parada cardíaca
durante um exercício intenso e abrupto, ao qual ele não esteja habituado. Já um
indivíduo bem condicionado fisicamente apresenta um risco apenas 2,5 vezes
maior.
Risco de Trombose
O mecanismo principal de vários eventos
cardiovasculares é a formação de um trombo dentro das artérias, provocando a
oclusão do vaso e a interrupção do fornecimento de sangue. Como esse é um
processo dinâmico, á medida que o trombo vai sendo formado, o organismo também
vai desfazendo o trombo, através da fibrinólise. Através do exercício regular,
é possível promover o aumento da fibrinólise, prevenindo a ocorrência de
fenômenos trombóticos agudos, como o infarto do miocárdio.