quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Jack3d — o que não vem escrito no rótulo...



Diariamente recebo no meu Twitter (@nutricorpo) mensagens perguntando o que eu acho do Jack 3d e sinceramente, um produto cuja venda aqui no Brasil não é permitida e sequer possui registro no FDA, possui compostos nada seguros, com certeza não tem minha aprovação. Mas pesquisando na internet encontrei este artigo maravilhoso que fragmenta  o Jack 3d para que você entenda o que ele contém e o que estes compostos podem causar no seu organismo.  Será reproduzido com a autorização do autor, obrigada Diego! Espero que todos consigam ter uma opinião formada após esta leitura. Divirtam-se!

A enorme quan­ti­dade de pro­du­tos mági­cos ofe­re­ci­dos pela indús­tria de suple­men­ta­ção nos deixa real­mente ator­do­a­dos e sem saber como jul­gar qual o melhor,  se real­mente fun­ci­ona e quais são os ris­cos. Por isso vou escre­ver um post sobre esse pro­duto especificamente.
Quando pen­sa­mos em suple­men­ta­ção, sem­pre temos que lem­brar de ali­men­ta­ção. Os suple­men­tos nada mais são do que com­pos­tos iso­la­dos de deter­mi­na­das subs­tân­cias pre­sen­tes nos ali­men­tos ou no nosso organismo. E por isso, uma aná­lise cri­te­ri­osa de cada com­po­nente do suple­mento deve ser feita antes de ser con­su­mido. Basi­ca­mente, deve­mos ana­li­sar o que é e para que serve cada item e seus efei­tos colaterais.
O Jack3d é ven­dido como um super suple­mento pré-treino, que irá te fazer ficar mais focado, levan­tar mais peso e te dar ener­gia dura­doura para trei­nos intensos!
Para con­fir­mar isso e res­pon­der as per­gun­tas que me fazem, bus­quei estu­dos com dados cien­tí­fi­cos sobre o Jack3d. Entretanto, em minhas pes­qui­sas não encon­trei expe­ri­men­tos com esse suple­mento. O que fiz então foi pro­cu­rar sua com­po­si­ção deta­lhada para analizá-la separadamente.
A com­po­si­ção do Jack3d é divida em 2 complexos.

COMPLEXO I: Y-RD™ (153,33 mg)

THEOPHYLLINE (TEOFILINA)
É tam­bém conhe­cida como dime­til­xan­tina.  É uma droga usada no tra­ta­mento de doen­ças res­pi­ra­tó­rias como asma, doença pul­mo­nar obs­tru­tiva crô­nica (DPOC), tem efei­tos esti­mu­lan­tes por pos­suir forma estru­tu­ral seme­lhante a da cafeína. Con­tudo, por causa dos seus efei­tos cola­te­rais agora é rara­mente uti­li­zada clinicamente.
A teo­fi­lina é natu­ral­mente encon­trada na maior parte dos chás, só que em meno­res quantidades.
Suas prin­ci­pais ações são:
  • dila­tar os brôn­quios no pulmão;
  • aumen­tar a força de con­tra­ção do coração;
  • aumen­tar a frequên­cia (ritmo) de con­tra­ções do coração;
  • aumen­tar a pres­são arterial;
  • aumen­tar o fluxo san­guí­neo nos rins;
  • efeito esti­mu­lante no sis­tema ner­voso cen­tral (SNC), prin­ci­pal­mente na parte res­pon­sá­vel pelo con­trole da respiração
Alguns pos­sí­veis efei­tos cola­te­rias da Teofilina:
  • diar­réia;
  • náu­sea;
  • aumento da frequên­cia cardíaca;
  • cefa­léia;
  • insô­nia;
  • irri­ta­bi­li­dade;
  • ton­tu­ras;
  • ver­tin­gens
 1,3 DIMETHYLAMYLAMINE
A Dimethy­lamy­la­mine ou Methy­lhe­xa­ne­a­mine, é um com­po­nente do óleo da flor de Gerâ­nio e por isso é ven­dida pela indús­trias de suple­men­ta­ção como ali­mento dietético.
Quando iso­lada em labo­ra­tó­rio, nor­mal­mente é uti­li­zada como des­con­ges­ti­o­nante nasal, por via oral ou nasal, por causa do seu efeito vasoconstritor.
Entre­tanto, essa droga não é apro­vada pela Food and Drug Admi­nis­tra­tion (FDA), nos EUA, pela falta de estu­dos con­clu­si­vos sobre sua dose segura e pelos efei­tos esti­mu­lan­tes sobre o SNC seme­lhan­tes ao das anfe­ta­mi­nas e efe­drina, o que pode oca­si­o­nar dependência.
Na Nova Zelân­dia fre­quen­ta­do­res de fes­tas notur­nas con­su­miam com­pri­mi­dos esti­mu­lan­tes que tinham como ingre­di­ente ativo a Dimethy­lamy­la­mine. Alguns efei­tos adver­sos sérios foram relatados:
  • dores de cabeça;
  • náu­seas;
  • aci­dente vas­cu­lar cere­bral (AVC)
E então, desde 2008 essa subs­tân­cia pas­sou a ser con­si­de­rada ile­gal na Nova Zelândia.
No meio espor­tivo, já foram encon­tra­dos vários casos de doping por uti­li­za­ção da Dimethylamylamine.
Em 2009 cinco atle­tas jamai­ca­nos foram pegos no exame pelo Comitê Jamai­cano de Anti-Doping, pelo uso dessa droga como estimulante.
Durante os Jogos da Com­monwe­alth neste ano, o atleta nige­ri­ano Damola Osayemi per­deu sua meda­lha de ouro nos 100m, após ser detec­tada a subs­tân­cia Dimethy­lamy­la­mine durante os tes­tes de drogas. Em seguida, o teste de outro atleta nige­ri­ano, Samuel Okon, que ter­mi­nou em sexto nos 110m com bar­rei­ras, tam­bém deu posi­tivo para a droga.
Ainda em 2010, em outu­bro, dois ciclis­tas Portugueses, foram pegos no dop­ping durante o Cam­pe­o­nato Naci­o­nal Por­tu­guês no final de junho. O Aus­tra­lian Sports Anti-doping Autho­rity sus­pen­deu nove atle­tas aus­tra­li­a­nos da Liga de Fute­bol Aus­tra­li­ano e Liga Naci­o­nal de Rugby tam­bém em outubro.
Em novem­bro foi a vez da África do Sul encon­trar a subs­tân­cia em dois  joga­do­res de Rugby na turnê anual de Rugby do Hemis­fé­rio Norte, os joga­do­res foram sus­pen­sos e ime­di­a­ta­mente man­da­dos de volta casa, ape­sar de terem ale­gado que con­su­mi­ram a subs­tân­cia invo­lun­ta­ri­a­mente, sob a forma de medi­ca­ção para os sin­to­mas da gripe.
Por esses fatos, a par­tir de 2010, a World Anti-Doping Agency incluiu a Dimethy­lamy­la­mine na lista de subs­tân­cia ilegais.
DIBENZO
Essa subs­tân­cia é da famí­lia das Ben­zo­di­a­ze­pi­nas, que são um grupo de medi­ca­men­tos uti­li­za­dos para tra­ta­mento de ansi­e­dade, amné­sia ante­ró­grada ou como seda­ti­vos, hip­nó­ti­cos, rela­xante mus­cu­lar e ainda anti­con­vul­si­o­nante. Ela tem uma grande capa­ci­dade de depri­mir o SNC, ou seja, dimi­nuir a ati­vi­dade cerebral.
Alguns efei­tos adver­sos do seu uso:
  • Seda­ção;
  • Eufo­ria;
  • Amné­sia;
  • Indi­fe­rença e má ava­li­a­ção do perigo;
  • Exa­cer­bar muito os efei­tos do álcool;
  • Con­fu­são mental;
  • Hipo­ter­mia (dimi­nui­ção da tem­pe­ra­tura corporal);
  • Depen­dên­cia;
  • Aumento da hos­ti­li­dade (agressividade);
  • Ata­xia (falta de coor­de­na­ção nos movimentos);
  • Ane­mia;
  • Alu­ci­na­ções.
Nome de alguns tipos de benzodiazepínicos:
  • Dia­ze­pam ou Valium;
  • Lora­ze­pam;
  • Clo­na­ze­pam ou Rivotril;
  • Bro­ma­ze­pam ou Lexotan.
SCHIZANDROL A
Schi­zan­drol A pos­sui a seguinte com­bi­na­ção: 2, 3, 4, 1, 2, 3-hexamethoxy-6,7-dimetil-1, 2,3,4-dibenzo-1,3-cyclooctadien-6-Ol e junto com o Dibenzo, atuam no fun­ci­o­na­mento cere­bral ini­bindo o SNC.
Ele pro­voca o aumento nas con­cen­tra­ções de dopa­mina e sero­to­nina no cére­bro, levando a um aumento na sen­sa­ção de pra­zer e bem estar, por isso, tam­bém pode ser uti­li­zado no tra­ta­mento de trans­tor­nos de comportamento, ansiedade e depres­são. Entre­tanto, exis­tem pou­cas pes­qui­sas com a sua uti­li­za­ção em huma­nos, somente em roedores.

COMPLEXO II: ATP-Carnosina-Vaso Com­plex™ (3500,00 mg)

CREATINA MONOHIDRATADA
A cre­a­tina é um com­posto encon­trado nos mús­cu­los na de forma de Cre­a­tina Fos­fato (CP), pois em sua estru­tura quí­mica existe uma molé­cula de fós­foro adicionada.
Como suple­mento, é uti­li­zada nor­mal­mente em moda­li­da­des espor­ti­vas que exi­gem uma grande pro­du­ção de força, e de maneira rápida. Nos ali­men­tos é encon­trada em mai­o­res quan­ti­da­des nas car­nes em geral.
BETA ALANINA
É um ami­noá­cido não essen­cial pre­sente no nosso orga­nismo, que tem par­ti­ci­pa­ção em todas as vias energéticas: carboidratos, pro­teí­nas e gor­du­ras. Ela atua no reco­nhe­ci­mento dos nutri­en­tes que serão utli­za­dos pela célula, na regu­la­ção da ati­vi­dade de cer­tos tipos de enzi­mas, no meta­bo­lismo do Trip­to­fano (ami­noá­cido for­ma­dor de Sero­to­nina) e tam­bém auxi­lia no aumento da sín­tese pro­teíca (for­ma­ção de novas proteínas).
ARGININA
É tam­bém um ami­noá­cido pre­sente no nosso orga­nismo, porém essencial.
A argi­nina é o pre­cur­sor ime­di­ato do Óxido Nítrico e esse por sua vez pro­move rela­xa­mento dos vasos san­guí­neos, dimi­nuindo a pres­são arte­rial. Tam­bém é impor­tante para pro­du­ção de cre­a­tina e tem papel fun­da­men­tal na divi­são celu­lar (mitose e mei­ose), na cica­tri­za­ção de feri­das, na remo­ção de amô­nia do corpo, no sis­tema imu­no­ló­gico e na pro­du­ção de alguns hormônios.
ALFA-CETOGLUTARATO
Conhe­cido tam­bém como Ácido Alfa-Cetoglutarato tem par­ti­ci­pa­ção na for­ma­ção de ener­gia celu­lar sendo uma peça chave no Ciclo de Krebs (ciclo for­ma­dor de ener­gia den­tro das célu­las). Além de regu­lar a pro­du­ção de ener­gia, outra fun­ção impor­tante desse ácido é a for­ma­ção de ácido glu­tâ­mico ou Glu­ta­mina, ami­noá­cido essen­cial para con­tro­lar a repa­ra­ção de teci­dos no corpo (pele, mús­cu­los e outros) e man­ter o sis­tema imunológico.

OUTROS INGREDIENTES

ÁCIDO CÍTRICO
O ácido cítrico é um anti­o­xi­dante encon­trado na mai­o­ria das fru­tas, sobre­tudo nas mais cítri­cas, limão, laranja, acerola.
Sua fun­ção é aju­dar a remo­ver os átomos de oxi­gê­nio que “sobram” no nosso corpo, retar­dando o pro­cesso de envelhecimento.
SUCRALOSE
É um ado­çante deri­vado do açú­car, bas­tante uti­li­zado em bebi­das de baixa quan­ti­dade calórica.
ACESULFAME-K
Ado­çante die­té­tico bas­tante uti­li­zado em doces, bebi­das e chi­cle­tes. Ele não é meta­bo­li­zado pelo orga­nismo humano, sendo eli­mi­nado com a mesma forma em que foi ingerido.

IMPORTANTE!

Todas as subs­tân­cias des­cri­tas no COMPLEXO I atuam no fun­ci­o­na­mento do Sis­tema Ner­voso Cen­tral e podem cau­sar dependência.

OPINIÃO PROFISSIONAL

Infe­liz­mente, na indús­tria da suple­men­ta­ção exis­tem pou­cos estu­dos com­pro­vando a efi­cá­cia de alguns pro­du­tos e estes, aca­bam sendo con­su­mi­dos de maneira equi­vo­cada pelas pes­soas. O mais impor­tante quando se trata de efi­ci­ên­cia e segu­rança é SEMPRE pro­cu­rar ori­en­ta­ção de pro­fis­si­o­nais sérios e qua­li­fi­ca­dos para enten­der qual a real neces­si­dade da suple­men­ta­ção,  qual tipo de pro­duto e qual a dosa­gem mais ade­quada para você.
Quanto ao Jack3d,  sou total­mente CONTRA o seu con­sumo, não indico, não com­pro e não reco­mendo. Haja visto, os com­po­nen­tes uti­li­za­dos em sua fabri­ca­ção, apoi­ado pela falta de regis­tro na Food and Drugs Admi­nis­tra­tion (FDA) nos EUA e tam­bém na Agên­cia de Vigi­lân­cia Sani­tá­ria (ANVISA) no Brasil.
Lembre-se sem­pre:

Não existe nada fácil.

Se for muito fácil desconfie!

Por­que tal­vez não esteja correto.


Autor: 

Diego Zanon

Pós-graduado em Fisi­o­lo­gia do Exer­cí­cio, cer­ti­fi­cado pelo Con­se­lho Naci­o­nal de Edu­ca­ção Física (CONFEF) regis­trado sob o n° 3013-G/ES, com expe­ri­ên­cia nas áreas de Trei­na­mento Per­so­na­li­zado, Ges­tão em Aca­de­mias e Trei­na­mento Funcional.