Tentação é um termo que, para muitas pessoas, ainda evoca questões religiosas.
Mas os cientistas abordam a tentação do ponto de vista do autocontrole, por exemplo, quando você quer uma sobremesa, mas sabe que deveria evitá-la.
E esse sistema de autorregulação parece gerar uma verdadeira tempestade cerebral, acionando simultaneamente áreas antagônicas.
"Parece que temos sistemas independentes capazes de guiar nossas decisões, e, em situações de tentação, nossos sistemas podem competir para controlar o que devemos fazer," explica a Dra. Cendri Hutcherson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA).
Ela é a principal autora de um artigo que descreve esses sistemas cerebrais competitivos, um trabalho publicado nesta sexta-feira no The Journal of Neuroscience.
Cendri verificou que os dois sistemas cerebrais não são opositores ferrenhos - na verdade, eles quase sempre guiam nosso comportamento na mesma direção, sem qualquer conflito.
"Mas, em alguns casos, como na situação tão comum de resistir à tentação de comer uma torta de chocolate, eles podem guiar o comportamento para ações diferentes. Além disso, o resultado da decisão parece depender de qual dos dois sistemas toma o controle do comportamento," explica ela.
Até agora, os cientistas consideravam que lidar com as tentações era simplesmente uma questão de atribuir valores numéricos à importância de cada uma das opções, e optar pela que pesasse mais.
Como os humanos não são máquinas lógicas, tipo Sr. Spock ou androide Data, os cientistas se deram conta de que a questão é um pouco mais complicada.
Uma complicação agora revelada pela competição entre os dois sistemas, em que um pode tomar a direção da ação do indivíduo, de uma forma ainda não totalmente compreendida.
As duas áreas do cérebro que são ativadas no momento da tentação são o córtex prefrontal dorsolateral (atrás das têmporas) e o córtex prefrontal ventromedial (no centro da testa, logo acima dos olhos).
Quando os voluntários diziam não querer a comida, a primeira dessas áreas parece assumir o controle, com uma forte correlação entre a ativação da região dorsolateral e o comportamento.
Quando os voluntários cediam à tentação, a correlação aparecia entre o comportamento e a segunda região, a ventromedial.
Os pesquisadores também descobriram que a capacidade do cérebro de mudar de controle entre essas duas áreas não é instantânea. Demora cerca de dois segundos antes de o cérebro ser plenamente capaz de ignorar a região em conflito.
"Esta pesquisa sugere uma razão pela qual é tão difícil controlar nosso comportamento," conclui a pesquisadora.
Fonte: Diário da Saúde