Um ano depois de a Anvisa ter proibido a fabricação e a importação de mamadeiras que contêm bisfenol A em sua composição, um estudo associou a presença da substância no organismo de crianças e adolescentes com um risco maior de obesidade. O bisfenol aparece no plástico de garrafas e de embalagens de alimentos. Também é usado no revestimento de latas.
Estudos em laboratório já tinham detectado uma relação entre o bisfenol e a obesidade. Essa é, porém, a primeira pesquisa em crianças e adolescentes a avaliar essa hipótese. A endocrinologista Tania Bachega, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e membro do Grupo de Trabalho dos Desreguladores Endócrinos da Regional São Paulo da SBEM, explica que, em cultura de células, já foi observado que o bisfenol seria responsável pela proliferação do tecido adiposo.
Tania alerta que as principais causas da obesidade continuam sendo o aumento do consumo de calorias e o sedentarismo. Mas especialistas estão discutindo que, apesar do aumento da ingestão calórica, a obesidade está crescendo muito mais que o esperado. A hipótese seria que substâncias químicas, chamadas de obesógenos, poderiam estar predispondo ao ganho de peso. O bisfenol, que interfere no funcionamento do sistema endócrino, seria uma dessas substâncias.
Mesmo assim, os pesquisadores não descartam a hipótese de que crianças obesas consumam mais produtos como refrigerantes e alimentos enlatados, que conhecidamente têm maior quantidade de bisfenol em suas embalagens. Outros malefícios associados ao bisfenol são câncer, diabetes, infertilidade, endometriose e ovários policísticos.
Segundo a endocrinologista Ieda Verreschi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estudos demonstram atuações específicas do bisfenol em alguns períodos do desenvolvimento humano, como o nascimento, a puberdade e alguns momentos da vida adulta. Nos recém-nascidos, ele pode promover a alteração no desenvolvimento das gônadas, podendo levar à ambiguidade genital. Na adolescência, está relacionado à puberdade precoce. Em adultos, se relaciona a alguns casos de câncer, como o de mama e o de próstata.
Fonte: revista Veja