terça-feira, 2 de outubro de 2012

Autocontrole não é um recurso limitado, ele pode ser treinado...


O autocontrole sempre foi visto como um arsenal limitado: você aguenta durante um tempo, mas se o problema for insistente, chega um ponto em que você explode.
Isso funcionaria assim também em episódios mais benignos, como recusar o segundo pedaço de bolo de chocolate, passar sem parar à frente da vitrine com os últimos modelos de quinquilharias eletrônicas ou deixar de assistir TV para preencher seu imposto de renda logo nos primeiros dias.
É o autocontrole que nos permite manter hábitos saudáveis e fazer as coisas importantes, mesmo que nem sempre sejam as mais agradáveis.
Mas o que é realmente o autocontrole? Como ele funciona?
Michael Inzlicht (Universidade de Toronto) e Brandon Schmeichel (Universidade do Texas) acreditam que essas questões se colocam mais do que nunca.
Isto porque, para eles, o modelo do autocontrole mais usado pelos cientistas está errado.
De acordo com este modelo, o autocontrole é um recurso limitado - por exemplo, se você usar um monte de autocontrole para recusar uma segunda fatia de bolo, poderá não tê-lo em quantidade suficiente no final do dia para ir caminhar, em vez de ficar assistindo TV.
Em vez de ser um recurso limitado, que se esgota rapidamente, Inzlicht e Schmeichel argumentam que o autocontrole pode na verdade se parecer mais como uma motivação, um processo guiado pela atenção consciente.
Segundo eles, o novo modelo já encontra fundamentação em centenas de artigos científicos relatando pesquisas sobre o autocontrole nos últimos anos.
Esses estudos mostram que incentivos, percepções individuais da dificuldade das tarefas, crenças pessoais sobre força de vontade, feedback sobre o próprio desempenho e mudanças no humor, todos estes fatores influenciam nossa capacidade de exercer o autocontrole.
Isso não ocorreria se o autocontrole fosse simplesmente um recurso limitado, que se esgota pelo uso, e depois deve se acumular novamente.
"Autocontrolar-se é, por definição, um trabalho difícil; envolve vontade explícita, atenção e vigilância," escrevem os dois pesquisadores em seu artigo, publicado na revista Perspectives on Psychological Science.
Assim, eventos sucessivos podem ser simplesmente encarados com níveis de atenção diferentes.
A diferença é fundamental, porque isso abre a possibilidade de criar mecanismos para desenvolver, aprimorar e reforçar o autocontrole, uma vez que não se terá mais a "desculpa" de que o autocontrole simplesmente acabou.
"A ideia de que o autocontrole é um recurso é uma possibilidade, mas há possibilidades alternativas que acomodam uma quantidade maior dos dados acumulados [pelos estudos científicos]," afirmam.
Identificar os mecanismos que estão na base do autocontrole pode ajudar a compreender comportamentos relacionados a uma ampla gama de problemas importantes, incluindo a obesidade, gastos impulsivos, vícios em jogos de azar e abuso de drogas.
Inzlicht e Schmeichel afirmam esperar que, usando melhores teorias, os cientistas possam usar os conhecimentos para projetar métodos mais eficazes para melhorar o autocontrole e evitar esses e outros problemas.
Fonte: Diário da Saúde