domingo, 10 de julho de 2011

O que é Medicina Integrativa?



Estudos recentes reportam que entre 40-42% da população norte-americana tem feito uso de procedimentos alternativos e complementares em Medicina. Secundário a esses dados, o sistema médico convencional americano constatou que deve direcionar esforços para entender o que está acontecendo e também entender mais a respeito dessa chamada “Medicina Complementar e Alternativa” em termos de educação, pesquisas, segurança e regulamentação.
Mas por quê isto está acontecendo? Qual o motivo destes pacientes procurarem formas alternativas de medicina? Será que é pelo motivo de preferirem fitoterapia e acupuntura aos tradicionais fármacos? Será que estão frustrados com o sistema de saúde? Um estudo do Journal of the American Medical Association (JAMA) revelou que a maioria dos pacientes que escolhem estas alternativas, o fazem pois estas terapias estão mais “alinhadas” aos seus princípios, crenças e orientações filosóficas em busca de saúde e bem-estar.
O sistema convencional de saúde americano começou então a se perguntar quais os métodos alternativos seriam apropriados para o atual modelo. Mas, será esta a questão correta de ser perguntada? Usando a perspectiva do sistema convencional, seria bem provável que modalidades alternativas fossem avaliadas, subtraídas, modificadas e reinseridas e, ao fazer tudo isso, o verdadeiro valor dessas modalidades estaria perdido. O desafio em questão é:  Criar um modelo de saúde ao invés de doença; um modelo onde os praticantes tenham tempo para ouvir seus pacientes; valorizar os aspectos nutricionais e mudanças no estilo de vida na saúde e na doença; oferecer tratamentos em adição a fármacos e cirurgias; entender o potencial de auto-cura e de “healing” que é inato do organismo humano. Este princípio parte da premissa de que a prevenção é uma das primeiras responsabilidades dos provedores da saúde e que, sempre que possível, tratamentos seguros, simples e de bom custo-benefício, e não apenas os complexos, caros e invasivos, devem ser oferecidos aos seus pacientes. 
A prática da Medicina que reafirma o conceito da boa relação entre o praticante e o paciente vem sendo chamada Medicina Integrativa. Seu foco está no indivíduo como um todo e não apenas na doença, é baseada em evidências, faz uso de todo o arsenal terapêutico apropriado e multi-profissionais de saúde para alcançar os melhores resultados nesta relação. Ela combina o que há de melhor, estado-de-arte, da medicina convencional com terapias complementares cuidadosamente avaliadas e baseadas em evidência. 
O conceito do tratamento se baseia na definição do “continuum”. De um lado temos a medicina preventiva, métodos diagnósticos, cirurgias e farmacoterapia. Estes serviços, então, extendem-se a terapias físicas, nutricionais, movimento e exercício, psicologia e a terapias complementares tais como acupuntura, fitoterapia e suplementos, terapias de redução de estresse e intervenções mente-corpo.  
É aqui que surge o paradigma da Medicina Integrativa pois, ela é confundida como “Medicina Complementar” ou “Medicina Alternativa”, senso latum. Ela é muito mais pois, como dito acima, ela se utiliza de todos os bons recursos da Medicina Convencional associados a métodos terapêuticos complementares apropriados em benefício da saúde e do bem-estar do indivíduo incluindo aqui os apectos psicossociais e até mesmo a dimensão espiritual que pode ser relevante na vida daquele indivíduo. Ela leva pacientes e provedores de saúde a uma relação de parceria com objetivo de atingir um estado de equilíbrio.
Terapias complementares estão, cada vez mais, sendo incluídas nos tratamentos de doenças cardíacas, câncer e outras patologias graves e crônicas. Pesquisas e dados baseados em evidência estão em crescente nesta área dando o suporte necessário. Técnicas baseadas em tradições milenares incluindo acupuntura, yoga e meditação podem reduzir o estresse e ansiedade, produzindo impacto psico e fisiológico e melhorando qualidade de vida e dados clínicos destes pacientes.
O primeiro estudo reconhecido na uso da “Medicina Alternativa” nos Estados Unidos demonstrou que em 1990, aproximadamente 1/3 dos adultos norte-americanos usavam tratamentos chamados não-convencionais e que o grupo que mais fazia esse uso era o dos brancos, com ensino e renda elevados, entre os 25 e 49 anos de idade. Os gastos contabilizados apenas com os praticantes era de aproximadamente 11,7 bilhão de dólares, correspondendo a um terço do que era pago por seguradoras de saúde públicas ou privadas. Não apenas o número de visitas aos praticantes desta área eram maiores do que aos médicos de primeiros cuidados (primary care physicians), mas 72% das pessoas usando ambos recursos para tratar alguma patologia, não informavam ao seu médico. Outra indicação desse mercado crescente veio da indústria: em 1994, já havia 8.000 lojas específicas para alimentação saudável e mais de 1,5 bilhão de dólares foi gasto apenas em fitoterapia. Desde então, várias outras pesquisas e censos vem demonstrando este crescente no mercado americano.  
Em 1995, a National Library of Medicine (NLM) expandiu suas “key words” e “journal listings” para incluir medicina alternativa. Como resultado, a NLM agora contêm mais de 60.000 citações em medicina alternativa e medicina integrativa. Estudos multicêntricos e meta-análises têm aparecido com mais freqüência nesta área. Em setembro de 1997, The Lancet publicou uma meta-análise em homeopatia. Em outubro do mesmo ano, foi publicado no JAMA um estudo multicêntrico a respeito do uso de Ginkgo Biloba em pacientes com Alzheimer.Em uma recente pesquisa entre médicos leitores do JAMA, medicina alternativa foi eleita como o 7º tópico mais importante em uma lista de 73 tópicos por publicação. 
Mas, quem participa desse movimento integrativo? No começo de qualquer movimento sócio-cultural em que se está tentando mudar ou estabelecer conceitos (status quo), um pequeno número de pessoas dará os primeiros passos, podendo arriscar as próprias carreiras. Estes pioneiros são os primeiros a perguntar onde estamos e onde queremos chegar, aqueles que navegam por mares turbulentos tentando quebrar paradigmas. É preciso poder de inovação e coragem. 
Em 8 de novembro de 2007, o Bravewell Collaborative, instituição filantrópica que apóia o nascimento e crescimento da Medicina Integrativa nos Estados Unidos, promoveu o Evento de Premiação aos Pioneiros da Medicina Integrativa, na cidade de New York.  “O trabalho desses pioneiros nos anos 80 e 90 podem ser lembrados como os inaugurais de uma nova era da Medicina” disse o moderador Dr. Mehmet Oz (o do programa da Oprah). São eles: Dr. Larry Dossey, Dr. James Gordon, Dr. Jon Kabat-Zinn, Dr. Dean Ornish,Dra. Rachel Remen e Dr. Andrew Weil. 
O Bravewell Collaborative nasceu em 2001 de uma união de filantropos com alguns desses pioneiros médicos com o objetivo de dar um novo rumo ao sistema de saúde que estava mostrando sinais de fraqueza. Em 2004 formou o Bravewell Clinical Network contando com 8 grandes centros de pesquisa envolvidos com o assunto. Esta rede vem crescendo e, hoje, já são quase 40 grandes e respeitados centros norte-americanos entre os quais podemos destacar as Universidades do Arizona, Duke, Harvard, Johns Hopkins, Mayo Clinic, entre outras, formando o Consortium of Academic Health Centers for Integrative Medicine. 
A vida me proporcionou a possibilidade de conhecer grande parte desses centros e ter estudado em dois deles (Duke e Harvard). Gostaria que todos os nossos leitores soubessem da minha percepção sobre esse movimento: Essa é a Medicina do Futuro! Desde meu retorno ao Brasil em 1999 tenho me dedicado muito às práticas complementares e, hoje, represento a Associação Médica Brasileira de Ortomolecular, como presidente. A visão integrativa dentro da prática ortomolecular é fundamental e grande responsável pelo sucesso de nossas terapias. Nossos esforços vão de encontro a tornar essa ciência mais conhecida e acessível à população geral. Prevenir e promover a saúde, além de tratar as doenças na sua origem de uma forma mais natural é primordial para que nosso sucesso aconteça. Meu sonho é realmente enxergar uma maior integração entre os métodos convencionais e práticas complementares no futuro para uma saúde melhor.   
O modelo americano conta com o Centro Nacional de Medicina Complementar e Alternativa (NCCAM) com um orçamento anual de mais de US$ 100 milhões para o desenvolvimento e regulamentação dessas terapias. Por quê não unir forças entre as associações médicas complementares e contar com a contribuição da sociedade brasileira para esse objetivo em nosso país? Com tantos excelentes profissionais na área clínica e pesquisa, temos uma grande oportunidade de elevar o Brasil a um status de líder nesse segmento. Ao menos, esse é um dos meu sonhos. Saúde à todos!
  

“Integrative medicine is the practice of medicine that affirms the importance of the relationship between practitioner and patient, focuses on the whole person, is informed by evidence, and makes use of all appropriate therapeutic approaches, healthcare professionals and disciplines to achieve optimal health and healing.”  

             

Consortium of Academic Health Centers for Integrative Medicine