Os transtornos alimentares são patologias graves que demandam políticas de saúde, mas são escassos os centros especializados para o devido tratamento que requer para o mesmo uma equipe multidisciplinar, formada por psiquiatras, clínicos, psicólogos e nutricionistas. A falta de informação a respeito deste tema faz que muitos ignorem uma relação psicopatológica com a alimentação, desta forma a dieta ou até uma reeducação alimentar não gerará o efeito esperado: do emagrecimento e da aquisição de saúde como um todo. Não me surpreendo que tantas pessoas tenham se frustrado pela eterna "guerra" com a balança, sem levar em conta que possivelmente precisaria ser tratado em psicoterapia sua "relação com a comida", o que não se consegue colocar em palavras que é "descontado" nessa alimentação.
A maioria dos programas de emagrecimento só diz o que comer e o que não comer e as quantidades, mas muitos pacientes confirmam que isso raramente é suficiente. A parte difícil da dieta é se manter na mesma, porque ela nos remete a privação e renúncia, quando na verdade a palavra "dieta" no grego significa "estilo de vida".
Existem diferentes tipos de transtornos alimentares (anorexia, bulimia, vigorexia), mas hoje quero ressaltar a Compulsão Alimentar que geralmente gera obesidade, (mas também pode acometer pessoas de peso normal) e é caracterizada pela perda de controle sobre a quantidade de alimentos consumidos que posteriormente provoca sensações e sentimentos de culpa e arrependimento. Para este tipo de paciente se torna imprescindível que não haja "alimentos proibidos" em uma dieta, porque para o compulsivo tudo que é proibido vira "fissura".
De maneira geral é importante pensar que não existem mesmo alimentos proibidos e sim alimentos "não planejados" para uma reeducação alimentar progressiva e permanente, até porque o maior problema não são as calorias por si só (que muitos tanto contam), mas o HÁBITO de alimentação saudável que não conseguem incorporar em sua vida, devido a suas vivências afetivas com a comida. Porque o alimento remete desde a infância ao afeto, no seio materno o bebê encontra afago para o seu choro (que nem sempre é de fome). Mais tarde quando a criança é bem comportada ganha a sobremesa, na adolescência os namorados se presenteiam com bombons e por aí vai; e quando surge uma carência afetiva ou angústia a compensação pode então ser buscada em uma guloseima.
Considero importante a apropriação destas informações porque muitos se consideram fracassados nos seus projetos de emagrecimento, sem saber que existem tais transtornos psíquicos, mas que eles podem e devem ser tratados em terapia. Muitas pessoas acreditam erroneamente que não são capazes de fortalecer seus propósitos por acharem que comer é "automático", mas comer nunca é automático. A digestão é automática. O bater do seu coração é automático. Comer não é. Antes de comer sempre temos alguns pensamentos mesmo que não estejamos completamente conscientes deles, por isso é preciso aprender a modificar o pensamento e encontrar outras fontes de prazer, como vida social, familiar, afetiva, uma atividade física que goste, um hobby que te deixe feliz para que comer seja apenas uma delas, mas não a ÚNICA no seu dia-a-dia.
Uma boa dica é colocar no papel tudo o que consome durante o dia anotando também o que sente naquele momento e observar se está de fato com fome ou agindo por impulso, fuga, tristeza ou raiva. Assim se surpreenderá com a quantidade e qualidade dos alimentos que consome.
Lembrando que é indispensável a ajuda médica e nutricional para identificar quais serão as mudanças necessárias e como trilhar um caminho rumo ao equilíbrio e saúde através da alimentação.
O papel do psicoterapeuta é tentar aliviar as dores do viver interrogando as motivações conscientes e inconscientes dos pacientes que lhe procuram. Portanto, se julgar necessário procure sim um profissional especializado, use o descontentamento com sua imagem como o combustível para acelerar uma mudança permanente a favor de sua saúde física, psíquica e emocional.