Boa parte dos atendimentos que faço em consultório tem como objetivo principal ou secundário “emagrecer”: o paciente procura-me para perder peso ou, quando o faz por múltiplas queixas, esta é uma das mais frisadas. No meu site (www.icaro.med.br), as seções mais acessadas são aquelas que direta ou indiretamente falam de emagrecimento e no Twitter (@qualidade_vida) o assunto é importante motivador de questionamentos e encaminhamentos (“retweets”) de mensagens. Enfim, depois de constatar tudo isso (após o sucesso da Cartilha do Concurseiro) e ser cobrado quanto a produzir artigo com orientações mais práticas e objetivas para perder peso de forma efetiva e saudável, resolvi escrever este, esperando que possa ajudar a clarear um pouco as coisas no assunto.
Entretanto, vale ressaltar que ainda que o conteúdo desta cartilha esteja embasado tanto em estudos científicos quanto na experiência em consultório, não é verdade absoluta, aplicável exatamente como apresentada a 100% dos casos. Cada paciente tem suas particularidades e por isso deve ser consultado e acompanhado por médico (e nutricionista ou outros profissionais de saúde, quando indicados) após avaliação inicial presencial e detalhada, com a realização dos exames e procedimentos que fizerem-se necessários. Em outras palavras, em alguns casos, seguir o que está aqui orientado não substitui a necessidade de consulta médica e acompanhamento por profissional competente.
EMAGRECIMENTO "COMUM"
Nos dias atuais o que mais acontece é mais ou menos o seguinte:
Quem quer emagrecer procura um médico, com objetivo específico de conseguir receita de medicamento (habitualmente “controlado”) para emagrecer (por via oral ou injetável, associando ou não a outros “tratamentos estéticos), desejando que este não só promova grande perda de peso mas que esta também seja rápida;
O paciente até recebe orientações quanto à importância de ter hábitos de vida saudáveis mas sem muito ênfase, motivo pelo qual não os adota, ainda que tome o remédio conforme orientado;
São sentidos efeitos colaterais (ansiedade, palpitações, alguma insônia, dor de cabeça, perturbações intestinais, etc) mas o paciente julga serem estes aceitáveis e “normais do medicamento”;
Até ocorre perda de peso, na maioria das vezes diferente da desejada e este peso começa a voltar assim que o uso do remédio para emagrecer é interrompido;
Pouco tempo sem o remédio e o paciente está novamente “fora do peso”, muitas vezes até com mais gordura que antes, decidindo assim reiniciar o ciclo;
Após emagrecer-e-engordar várias vezes o paciente desiste de usar o remédio, seja por desenvolver doenças, seja por não mais tolerar os efeitos colaterais ou mesmo por ver que o tratamento, simplesmente, “não funciona” (neste ponto muitos buscam remédios cada vez mais fortes, no fim terminando esta busca da mesma forma: frustrados e “doentes”).
O QUE ESTÁ ERRADO?
Esta receita para emagrecer apresenta tantos erros que apontá-los todos resultaria em um verdadeiro livro sobre o que NÃO fazer para perder peso com saúde mas tentarei me ater brevemente aos aspectos mais importantes:
Ninguém compra um carro sem pesquisar muito antes: avaliar bem as opções disponíveis, suas necessidades, condições de pagamento e detalhes em geral, não é? Se deixar de fazer isso, tem grandes chances de arrepender-se no futuro e adquirir um veículo que não vá atendê-lo como gostaria. Analogamente, o paciente que dispõe-se a tomar um medicamento sem que seja ouvido atentamente, examinado (sempre que necessário), submetido a exames complementares e orientado de forma completa, corre sério risco de receber prescrição de substância inadequada, que ou não irá funcionar ou irá causar-lhe efeitos indesejáveis.
Tentar emagrecer sem primeiramente adotar hábitos de vida mais saudáveis é tão impossível quanto esvaziar uma pia com a torneira bem aberta: água está saindo pelo ralo mas continua entrando pela torneira; você pode usar os mais eficazes medicamentos e submeter-se aos melhores e mais inovadores tratamentos para emagrecer mas se ao mesmo tempo seus hábitos de vida lentificam seu metabolismo e fazem seu corpo acumular gordura e perder músculos, o resultado final é que você não emagrece de verdade.
Não há nada de normal em aparecerem efeitos colaterais intoleráveis quando se usa um medicamento para perder peso; se isto ocorre, algo está errado e precisa ser alterado: ou o medicamento não serve para você, ou a dosagem/posologia está inadequada ou você tem distúrbios (mesmo que ainda não identificados) que precisam ser tratados.
O óbvio: se o peso começa a aumentar novamente assim que um medicamento/tratamento para emagrecer é suspenso, isto é sinal claro que a causa do seu acúmulo de gordura não foi resolvida; ou seja, enquanto você não tratá-la, continuará com cada vez mais peso. E o chamado “efeito sanfona” realmente existe: quanto mais um paciente engorda-e-emagrece sucessivamente, mais difícil fica perder peso, tendo-se em vista a resistência crescente do tecido gorduroso no corpo.
Alguns dos medicamentos “controlados” para emagrecimento preferidos “estressam” o organismo, provocam rápido e excessivo consumo dos seus nutrientes básicos e fazem-no desenvolver “tolerância” a eles (o organismo começa a precisar de doses cada vez mais altas e, na ausência do medicamento, não funciona direito, produzindo sintomas).
Perder peso NÃO significa necessariamente perder gordura: a balança aponta o peso total do corpo que é basicamente composto por água, músculos, ossos e gordura. Muitos medicamentos, quando mal prescritos, provocam rápida perda de água e músculos, o que dá a falsa impressão para o leigo de estar perdendo gordura por estar perdendo peso.
A perda excessiva de água e músculos SEMPRE vem acompanhada da perda de importantes vitaminas e minerais, o que enfraquece o organismo como um todo, causando muitos sinais e sintomas a exemplo de: baixa imunidade, distúrbios psicológicos, fraqueza, tontura, cefaléia, etc.
DICAS PARA EMAGRECER COM SAÚDE
Ninguém consegue atingir o peso ideal e mantê-lo, COM SAÚDE, sem o mínimo de disciplina e planejamento/organização; aliás, estas duas qualidades são fundamentais para atingir qualquer objetivo na vida; o problema é que a maioria dos pacientes coloca sua própria saúde em segundo plano de importância, facilitando desistência ante às dificuldades. Sabe aquele ou aquela modelo cujo corpo você “inveja” e gostaria muito de ter? Tenha certeza que ele(a) segue algumas regras básicas para conseguir manter a aparência, onde os excessos são exceções, ocasionais (caso contrário, dependerá do uso constante de substâncias, cujo uso crônico e abusivo não tardará a causar doenças).
Algumas pessoas demoram para perceber que não existem “pílulas mágicas” ou “tratamentos miraculosos” em saúde... Mas para os que já entenderam isto e estão dispostos a perder peso às custas de eliminar realmente os depósitos de gordura do corpo, seguem as principais orientações que funcionam na prática:
O excesso de gordura corporal está relacionado ao aparecimento e manutenção de MUITAS doenças. Assim sendo, mais que questão estética, perder o excesso de gordura é fundamental para ter e manter saúde. São cada vez mais freqüentes os relatos de pacientes que deixaram de sentir vários sintomas simplesmente por terem perdido peso de forma saudável.
Para que a gordura corporal seja gasta ou eliminada pelo corpo, ela precisa circular direito, ou seja, ser transportada pelo sangue e a maior parte do sangue é água. Por isso, sempre tome bastante água por dia (pelo menos 3 litros bem distribuídos ao longo do dia).
O exercício físico regular é fundamental porque tem tripla função no processo de emagrecimento:
Acelera o metabolismo e gasto energético, forçando a queima de gordura para gerar energia (a energia que “sobra” dos alimentos, normalmente é armazenada sob a forma de gordura)
Propicia o aumento da massa muscular que, mesmo no repouso, gasta energia para sobreviver e atuar (por isso é verdade que quanto mais músculos, normalmente, menos gordura)
Melhora a circulação do sangue
Não existe emagrecimento efetivo e saudável sem bom funcionamento intestinal, uma vez que é o intestino quem controla o que “entra” no corpo através da alimentação e boa parte do que é eliminado: basta lembrar que todo medicamento/suplemento ingerido é absorvido pelo intestino e só depois disto cai na corrente sangüínea para agir. Isto significa que um intestino funcionando mal pode não absorver direito medicamentos, reduzindo assim seu efeito. A dica aqui é sempre ingerir pelo menos 30g de fibras/dia (folhas, cereais, frutas, sementes, vegetais, etc), distribuídas entre as várias refeições do dia e muita água.
O organismo humano foi programado geneticamente para receber alimentos no máximo a cada 3 horas. Por isso, quem passa mais de 3 h sem comer durante o dia está “forçando” seu cérebro a mandar que o corpo estoque o máximo de energia que der, a cada nova refeição. Em outras palavras, “pular” refeições faz com que o corpo transforme o máximo possível das outras refeições em gordura; por isso quem come poucas vezes por dia tende a comer mais e em maior quantidade, aumentando cada vez mais seus estoques de gordura.
A falta de sono e o stress prejudicam a liberação da leptina, que é um hormônio que informa ao cérebro a “hora de parar de comer” (saciedade). Resultado: quem não dorme direito (também com qualidade) e quem é estressado tende a sentir o apetite aumentado durante seu período acordado
Nem todo medicamento para emagrecer tem que ser necessariamente estimulante, causando taquicardias, palpitações, elevação de pressão sangüínea, insônia, ansiedade, etc. O que mais funciona para ter e manter o peso ideal é cultivar sempre hábitos saudáveis de vida (vide apresentação “Viver: o que é necessário” no meu site) mas hoje em dia há excelentes medicamentos para auxiliar nos processos de emagrecimento saudável que agem mais naturalmente sem o efeito “estimulante” excessivo: na moderação do apetite, na queima de gordura para gerar calor (termogênese), na redução das calorias dos alimentos ingeridos, no estímulo à utilização preferencial de gordura pelo corpo para geração de energia, na facilitação da eliminação da gordura, etc.
Procure ter apoio de médico experiente no seu processo de emagrecimento, preferencialmente através de avaliação completa e atenta (com obtenção de história clínica detalhada), realização dos exames complementares necessários e acompanhamento periódico dos detalhes e resultados do tratamento. Os melhores profissionais não são necessariamente os que só prescrevem “novidades” mas com certeza estão entre aqueles que sabem ouvir o paciente com real interesse e tempo para isto, atentando para os detalhes do quadro clínico de cada um; é nos detalhes individuais que reside o sucesso ou fracasso de boa parte dos tratamentos, o que consultas curtas demais decerto não permitem obter.
O apoio de nutricionistas, professores de educação física e demais profissionais de saúde competentes tem se mostrado importante aliado dos tratamentos com fins de emagrecimento: afinal, cada um entende melhor da sua área específica de estudo e atuação.
Se durante o tratamento (seja ele via medicamentos ou via tratamentos estéticos ou ambos) você sentir sintomas indesejáveis, comunique seu médico; alguns deles podem motivar alterações na forma de usar, dosagem ou mesmo substituição do próprio remédio. Para outros sintomas, a associação de outros medicamentos ou suplementos pode ser benéfica e mesmo necessária (por exemplo, todo processo de emagrecimento gera excesso de radicais livres, aumentando o estresse oxidativo, para o que a administração conjunta de antioxidantes costuma ser bastante vantajosa para o paciente).
Procure estabelecer metas atingíveis: não são raros os casos de pacientes que querem atingir peso e constituição corpórea que seu biótipo simplesmente não permite. E algumas clínicas e profissionais vão fazer o possível para fazê-lo acreditar que está fora do seu corpo e peso ideais... Mesmo que você não esteja. Lembre-se sempre que a busca pela estética nunca deve comprometer a promoção e manutenção de saúde.
Os tratamentos estéticos e medicamentos para perda de gordura são basicamente de 3 tipos: os que reduzem a formação de depósitos de gordura pelo seu corpo, os que promovem o aumento do gasto da gordura armazenada e os que facilitam a eliminação de gordura. E são inúmeras as substâncias que podem ter um ou mais destes efeitos, com milhares de combinações possíveis, sempre na dependência de cada caso, individualmente. Para enumerar apenas algumas destas, de eficácia comprovada: ácido lipóico, ashwaganda, cafeína, caraluma fimbriata, carnitina, cassiolamina, centella asiática, chá verde, citrus aurantium, coenzima Q10, creatina, faseolamina, garcínia, ginseng, gymnena silvestre, irvingia gambonensis, HMB, koubo, pantetina, pholia magra, resveratrol, sesamina, slendesta, tribulus terrestris, ubiquinol. É claro, devem ser prescritas somente pelo médico que saiba como utilizá-las e associá-las, quando necessário.
Em resumo, perder peso de forma saudável é perfeitamente possível e mesmo fácil (depende sobretudo de um pouco de disciplina) mas pressupõe “queimar gordura” com manutenção ou aumento da massa muscular, o que só é possível através da prática diária de hábitos de vida saudáveis: para quem faz isto, os tratamentos estéticos e medicamentos/suplementos para emagrecer, quando bem indicados por profissional médico competente, entram como eficazes “aceleradores” e “melhoradores” do processo.
Mas para quem após toda esta leitura continua achando que não precisa mudar nada na sua vida e que os medicamentos e tratamentos “fazem o milagre” do emagrecimento sozinhos, um conselho: que mantenham uma GORDA conta corrente, capaz de arcar com todos os custos dos tratamentos e suplementos por toda a vida e, depois de algum tempo, com os remédios para as tantas doenças que decerto, infelizmente, desenvolverão.
A escolha é sua. Faça a sua parte e boa escolha!