Toda hora eu vejo um bocado de dicas de saúde em tudo quanto é canto.
Isso me deixa feliz pelo fato de perceber que as pessoas estão dando atenção à necessidade de se cuidar (se não houvesse demanda pelo tema, ninguém estaria escrevendo sobre ele) mas, ao mesmo tempo, me deixa triste perceber uma falta de foco imensa, onde se atira pra todos os lados, deixando todo mundo confuso.
O que quero dizer é simples: cuidar da saúde é, fundamentalmente, simples. Não há necessidade, a princípio, de se tomar o chá da flor azul da montanha escura nos confins do deserto de Gobi, que floresce apenas 1 dia por ano, aleatoriamente, à noite, feito com baba de dromedário albino cego.(!!!) Tem gente inventando um bocado de presepada, com fins exclusivamente comerciais.
Muito material divulgado é útil. Não tô aqui dizendo que nada seja. Na verdade, percebo que a grande maioria do material é bem intencionado pra caramba! As falhas são mais técnicas e falta de apelo, do ponto de vista do marketing. Os melhores materiais quase sempre têm um marketing fraco. Alguns poucos materiais bons são bem divulgados. Muitos materiais bem difundidos são muito bem intencionados, mas contêm falhas técnicas que comprometem os resultados de quem os venha a seguir. Boa parte disso tudo é, simplesmente, culpa da complicação.
A idéia é que a saúde se desenvolve em cima de uma fundação que tem 6 elementos principais: dormir, respirar, comer, beber água, fazer cocô e fazer xixi. Se realizarmos estas 6 funções direitinho, teremos uma saúde básica fenomenal. Esta é a base sobre a qual desenvolveremos todo o resto. Exercícios, trabalho, relações humanas, sexo, estudo e todos os outros aspectos que a saúde envolve, se estruturarão em cima dessa base. Isso é simples... a princípio.
A dificuldade está em compreender que precisamos realizar estas 6 funções com o mesmo grau de atenção, dando a mesma importância. Nossa cultura nos fez elevar, sobremaneira, o valor do ato alimentar, em detrimento dos outros 5. Isso é um erro. Hoje em dia, nos reunimos para comer E fazer algo, e não para fazer algo e, se houver necessidade, comer alguma coisa. Nos reunimos em torno do ato alimentar, transformando as celebrações em come(r)morações (me permitam a licença poética). Ao mesmo tempo, negligenciamos o sono para realizar isso ou aquilo, "prendemos" o xixi para não perder tempo, nem lembramos que respiramos, fazemos cocô se der e como der, esquecemos de beber água e por aí vai.
Você convida amigos para sua casa e a primeira preocupação que surge é: o que vamos servir? Caramba! O foco deveria ser o porquê da reunião. O ponto mais importante deveria ser garantir o conforto do encontro e a viabilidade do diálogo, a manutenção de um ambiente agradável e seguro. Ao invés disso, nos preocupamos com o que comer. O pessoal não tem comida em casa não?! (HAHAHA!)
Não tenho nada contra as pessoas se encontrarem para comer, o problema é que nós temos feito isso demais ultimamente. Você já tentou fazer uma reunião de trabalho em um almoço? Consegue conversar de boca cheia? Acredito que não. Nunca é produtivo. É um desvio de foco. Por que não almoçar E, DEPOIS, fazer a reunião? Ou o contrário. Faria mais sentido pra não ser mal educado cuspindo farofa na cara dos outros.
Até encontros de pessoas com finalidades supostamente saudáveis, como aquele futebol dos amigos no final de semana, está sendo organizado em torno de cerveja e comida. O jogo vai até perdendo a importância diante das atrações gastronômicas e da birita.
Brincadeiras à parte, precisamos entender que estas 6 funções, puramente fisiológicas, precisam operar equalizadas, em igual valor e importância (não frequência), para que possamos desenvolver uma saúde que valha a pena.
Parece complicado, mas é simples... desde que estejamos dispostos. A nossa falta de disposição em nos equalizar é que torna a execução trabalhosa, mas vale a tentativa. O quanto se conseguir, já é lucro.
Vamos começar?
Dr Adolfo Duarte - CRM-BA 15.557