A aplicação de óleo de peixe pelas veias na etapa pré-operatória favorece a resposta imunológica na etapa pós-operatória.
A descoberta foi feita por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP.
O óleo de peixe é rico em ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa ômega-3 (AGPI w-3), que têm potencial para prevenir ou atenuar inflamações.
A pesquisadora Raquel Torrinhas testou a injeção direta do composto em 63 pacientes internados para cirurgia eletiva de ressecção de câncer de estômago e cólon.
Entre os pacientes selecionados, com idades entre 18 e 75 anos, 31 receberam óleo de peixe e 32, no grupo controle, receberam infusão de emulsão parenteral rica em triglicérides de cadeia média.
O composto especial de óleo de peixe, fabricado na Alemanha, foi injetado por veia periférica, na concentração de 0,2 grama (g) de gordura por quilo (kg) de peso corpóreo por dia, durante seis horas contínuas e com rodízio diário do acesso venoso.
Reforço imunológico
No período pós-operatório, os pacientes tratados com a emulsão de óleo de peixe apresentaram menores níveis de interleucina IL-6 e maiores níveis da interleucina IL-10, em comparação aos que foram tratados com emulsão lipídica controle.
"Enquanto a IL-6 é um mediador imunológico relacionado com inflamação e imunossupressão, a IL-10 tem propriedades anti-inflamatórias", conta Raquel.
A injeção não alterou a evolução clínica da cirurgia propriamente dita, mas os pacientes apresentaram vários benefícios de natureza imunológica.
"Pacientes tratados com emulsão de óleo de peixe apresentaram funções ou marcadores de funções leucocitárias (das células de defesa do organismo) pós-operatórios melhores do que aqueles tratados com emulsão controle, notadamente menor diminuição da explosão oxidativa leucocitária, manutenção da porcentagem de monócitos exprimindo moléculas de superfície HLA-DR e CD32 e aumento da intensidade da expressão de CD32 por neutrófilos," explicou a pesquisadora.
Segundo Raquel, a infusão isolada de emulsão parenteral de óleo de peixe como fármaco-nutriente já foi realizada por outros pesquisadores em outras populações de pacientes e vem se mostrando segura, quando feita na mesma dose que aquela adotada na pesquisa (0,2g de gordura/ kg de peso corpóreo/ dia).
"Durante o estudo observaram-se efeitos adversos de baixa/moderada gravidade (dor local, vômitos e flebite local) em 9,7% dos pacientes do grupo óleo de peixe OP e 6,2% dos pacientes do grupo controle," concluiu.
Fonte: Diário da Saúde