Há uma longa história de "dietas milagrosas", que a historiadora Louise Foxcroft descreve em seu livro "Calorias e Espartilhos: Uma História da Dieta através de 2 mil anos", ainda sem versão em português.
O boom da indústria da dieta também foi facilitado pelo crescimento no número de celebridades, dos meios de comunicação e dos novos medicamentos, acrescenta Foxcroft.
Portanto, quais são as dietas milagrosas mais estranhas e prejudiciais à saúde da história?
Mastigue e salive bastante
Na virada do século 20, o norte-americano Horace Fletcher popularizou a ideia de que uma das maneiras mais efetivas de perder peso era mastigar e cuspir bastante.
O fletcherismo, como foi chamado seu processo de emagrecimento, dizia que as pessoas deveriam mastigar a comida até todas as calorias fossem "extraídas" e depois cuspir o material fibroso que restou.
Fletcher detalhava minuciosamente quantas mastigadas a pessoa tinha de dar para cada tipo de comida. Segundo ele, um determinado tipo de alho, por exemplo, teria de ser mastigado em torno de 700 vezes.
Por mais estranha que pudesse parecer, a dieta tornou-se bastante popular e atraiu vários seguidores famosos, como os escritores Henry James e Franz Kafka.
Segundo Foxcroft, o regime chegava ao ponto de cronometrar os jantares de modo que as pessoas mastigassem a comida.
"A dieta também previa que seu seguidor defecaria apenas uma vez a cada duas semanas e que seu cocô não teria odor. Pelo contrário, as fezes teriam um odor similar a 'biscoitos recém-tirados do forno'", diz.
"Fletcher carregava uma amostra de suas próprias fezes com ele para ilustrar o feito de sua dieta", acrescenta.
Dieta dos vermes
Também no início do século passado, uma dieta inusitada fez enorme sucesso. O regime previa a ingestão de tênias (ou solitárias) para emagrecer.
A cantora de ópera Maria Callas teria sido uma das celebridades daquela época a ter comido parasitas para perder peso.
As pessoas que seguiam essa dieta deveriam ingerir ovos dos parasitas, frequentemente em forma de pílulas. A teoria baseava-se na ideia de que tão logo as tênias atingissem a maturidade no intestino dos pacientes, absorveriam a comida, dando início ao processo de emagrecimento, por vezes, acompanhado de diarreia e vômito.
Uma vez que o usuário atingisse o peso desejado, tomaria uma pílula para matar os parasitas que, no melhor dos casos, morreriam.
A pessoa teria, então, de excretá-los, o que poderia causar complicações no abdômen e no reto.
O regime era arriscado em vários sentidos. Não apenas o parasita poderia crescer em até 9 metros de comprimento dentro do corpo do seguidor da dieta, como também poderia provocar inúmeras doenças, como dores de cabeça, problemas oftalmológicos, meningite, epilepsia e demência.
"Durante o século 19, a dieta tornou-se um grande negócio", diz a historiadora Annie Gray, especializada em nutrição. "A publicidade ficou cada vez mais sofisticada, com mais e mais produtos dietéticos sendo colocados à venda."
Arsênico
Remédios, pílulas de emagrecimento e "poções mágicas" tornaram-se um grande negócio no século 19. Mas tais medicamentos normalmente continham ingredientes perigosos, incluindo arsênico e estricnina.
"Eles foram alardeados como aceleradores do metabolismo, tal qual as anfetaminas," diz Foxcroft.
Apesar de a quantidade de arsênico nas pílulas ser pequena, era também muito perigosa.
Não eram raras as vezes em que os seguidores dessa dieta tomavam uma dosagem acima da recomendada para perder peso mais rápido, morrendo por envenenamento.
Além disso, o arsênico nem sempre aparecia na bula como um dos ingredientes do remédio, o que fazia com que as pessoas desconhecessem o que estavam tomando.
"Não havia muito controle sobre a venda de tais venenos naquela época e qualquer um podia obtê-los para todos os fins", diz Foxcroft.
Vinagre
As dietas de celebridades são mais antigas do se pensa. Lord Byron foi um dos primeiros ícones desse tipo de regime e ajudou a dar o pontapé na obsessão pública sobre como os famosos perdem peso.
Como as celebridades de hoje em dia, o poeta britânico trabalhava duro para manter a cintura. No início de 1800, ele popularizou um tipo de dieta que consistia majoritariamente na ingestão de vinagre.
A proposta desse regime era de que, para limpar o organismo das impurezas, a pessoa precisaria beber vinagre diariamente e comer batatas embebidas no líquido. Os efeitos colaterais incluíam vômito e diarreia.
Por causa da imensa influência cultural de Byron, havia muita preocupação sobre o efeito da dieta na juventude daquela época.
Isso porque muitos escritores acabaram restringindo-se à alimentação composta por vinagre e arroz para tentar chegar ao estilo e à palidez de Byron.
"Muitas de nossas meninas estão vivendo sua adolescência em semi-jejum," escreveu um crítico daquela época.
No início do século 19, os padrões de alimentação também se tornaram mais prescritivos, como a maneira de sentar-se à mesa ou promover um jantar, diz Gray.
"Isso fez com que as pessoas começassem a se preocupar com o seu físico. A Rainha Vitória, da Inglaterra, por exemplo, vivia aterrorizada com seu peso."
Borracha
Em meados de 1800, o norte-americano Charles Goodyear descobriu como melhorar a borracha além de seu estado natural por meio de um processo conhecido como 'vulcanização'.
Com a Revolução Industrial e a produção em massa, o uso da borracha foi, de repente, expandido maciçamente.
A partir daí, foram fabricantes aos milhares ceroulas e espartilhos feitos do material.
A ideia era de que a borracha disfarçaria o excesso de peso, mas, mais importante, esquentaria o usuário, fazendo-o suar e, eventualmente, perder peso.
Tais peças de roupa eram usadas tanto por homens quanto por mulheres, diz Foxcroft.
"Naquela época, todo o tipo de roupa e tratamento era anunciado como uma maneira de perder peso", completa Gray.
A dieta durou até a Segunda Guerra Mundial, quando a borracha passou a ser empregada exclusivamente no confronto.