Leia e reflita sobre as sábias palavras do Dr. Carlos
Braghini, conforme extraídas recentemente do seu artigo postado no link: http://www.ecologiacelular.com.br/content/e_necessario_mudar_o_atual_paradigma_medico
Acho que após a leitura você vai entender claramente (e
melhor) muitas coisas mas 2 principais:
- Que os problemas com a sua, a nossa SAÚDE, são bem mais
graves e profundos que você pensava;
- Que a mudança, o caminho para a resolução deles, começa
com SUA mudança de postura...
Um abraço e boa leitura! Divulgue!
Dr. Ícaro
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Medicina hay uma sola, y es la que cura.
Traduzida por Só existe uma medicina: a que cura,
esta frase é atribuída a um grande sanitarista e pediatra argentino,
Florencio Escardó, que sofreu duras perseguições em seu país por discordar do
discurso ortodoxo da medicina convencional. Durante muitos anos usei-a em minha
assinatura de email e como ela nunca mais me saiu da cabeça, acabei por
incluí-la em meu livro Ecologia
Celular.
Só existe um tipo de medicina, e é aquela que cura. Parece
óbvio, não? Basta assistir aos inúmeros programas de televisão sobre saúde para
se dar conta que a coisa não é tão simples. Peguemos a maior rede de TV: na
sexta-feira é possível assistir a um programa falando sobre o poder terapêutico
das plantas e dos alimentos; no sábado, a notícia da noite é a nova vacina ou tratamento
para lidar com uma doença grave e incurável; e fechamos o domingo ouvindo algum
médico respeitável confirmar a reportagem engraçadinha mostrando que
determinado tratamento não funciona, que não é científico, que as Sociedades
Médicas não reconhecem etc. Confuso, não? Muito.
Se a frase que dá título a este artigo tem algum sentido
para você posso lhe dizer que você acabou de tomar partido e está no meio de
uma discussão de classe, numa luta de poder entre diversos segmentos de uma
profissão. Sim, a medicina vive, desde seus primórdios, numa eterna disputa
entre correntes de pensamento, uma tentando eliminar a outra. E por que não
trabalham em conjunto? Pelo mesmo motivo que os povos se matam desde o início
dos tempos: Poder.
Não vou escrever um artigo sobre a história das artes
médicas, pelo menos aqui (cobrem-me que vocês já viram que gosto de desafios),
mas posso resumir o quadro atual num embate entre a medicina convencional ou
ortodoxa (também chamada de medicina científica ou medicina baseada em evidências)
e um grupo amorfo chamado de medicina alternativa ou complementar). Nessa briga
de poder, quem perde são aqueles que deveriam ser os mais beneficiados: os
pacientes.
O título também expressa, de alguma maneira, minha maneira
de pensar sobre como deveria ser a atuação médica. Sou médico clínico e não me
especializei em nada; fui professor de fisiologia humana nos primeiros anos
pós-formado e acredito que esta base acabou por moldar minha forma de ver o
paciente. Hoje, atuo mais próximo do que chamamos de medicina integrativa (ou
medicina integral). Isto significa que eu não restrinjo minha atuação numa
única forma ou ideologia: posso usar quiropraxia, osteopatia ou indicar
cirurgia; posso prescrever homeopatia ou medicamentos alopáticos; posso indicar
psicanálise ou sugerir dançar ou fazer mais amor; quer dizer, posso ser MÉDICO.
De novo parece óbvio, não? Mas acredite: o médico que pensa
assim não pode almejar cargos importantes ou de direção numa instituição e é
melhor que guarde suas opiniões para si mesmo. A simples menção das
palavras acima o afasta de seus pares e o coloca num limbo onde será submetido
a escárnio e desdém. E é provável que o coloque sob suspeita, passível de
punição pelos Conselhos Profissionais.
Existem várias razões para isto acontecer, mas a medicina
atual está assentada em alguns paradigmas e é esse o tema que quero abordar
aqui. Vou mais além, a profissão médica necessita romper com estes paradigmas
se quiser voltar a ter o status que tinha no passado e recuperar a
autonomia de decidir o melhor para seus pacientes, algo hoje inexistente. Como
disse uma vez José Antonio Campoy, diretor de uma das melhores revistas de
saúde que já li, a espanhola Discovery
DSALUD: o atual paradigma médico está morto, e o pior é que nem
os médicos, nem os pacientes sabem disso!
Exagero? Vamos ver.
A Teoria da Bala Mágica
Este termo (magic bullets) foi cunhado pelo ganhador do
Nobel de Medicina em 1908, Paul Ehrlich ao explicar seu conceito de que cada
doença estaria atrelada a um alvo molecular, bastando assim, encontrar as
drogas que encontrassem e se ligassem a esses alvos. Ao serem administradas,
atingiriam apenas o alvo da doença, deixando intactas as outras células do
organismo.
Foi em cima deste conceito que a medicina passou a depender
cada vez mais da química, dando início à grande parceria entre esta indústria e
a prática médica. Como expliquei no artigo sobre potencial
zeta esta interdependência chegou ao campo das ideologias
quando, no início do século passado, os governos europeus começaram a criar
políticas proibindo as pesquisas e terapias que não fossem de base química.
Todos nós fomos criados segundo esta ideologia, por isso,
não achamos estranha a ideia propagada cotidianamente de que existe para
cada doença, uma cura. A TV nos mostra isso a todo instante: comeu demais? Há
um remedinho para isso; bebeu demais? É só abrir um envelope e misturar com
água? Dor de cabeça? Há uma pílula para isto, também. E é também, por isso que
achamos que precisamos de remédios para controlar a pressão, para baixar o
colesterol, para controlar o diabete... Basta irmos ao médico e contarmos nosso
problema para ele estabelecer um diagnóstico e definir o remédio correto. Pode
parecer perfeitamente normal para você, mas aí está o resultado da ideologia
que citei acima: que existem enfermidades que devem ser combatidas com drogas.
E ainda acreditamos que esta droga atua somente naquilo que ela se propõe a
lidar.
Pode parecer lógico, mas é somente a interpretação química
do conceito da bala Mágica de Ehrlich. Uma outra forma se explicá-la seria
assim: o caçador dá um tiro, a bala atravessa a floresta, desvia da árvore,
passa por cima das rochas, desce em direção ao vale para finalmente atingir a
caça lá embaixo. Estranho? Ué, então, por que você acha mais fácil acreditar
que tomando uma pílula que entra pela boca, cai no estômago, é absorvida no
intestino, chega à corrente sanguínea, passa elo fígado onde é metabolizada,
segue até encontrar a área lesionada (e somente essa), para finalmente entra na
célula afetada e fazer seu efeito? Mágico, não?
Não precisamos ser muito espertos para descobrirmos que a
base farmacológica da medicina é sustentada por um conceito abstrato criado há
mais de cem anos e o que a indústria farmacêutica tem feito desde então é
tentar convencer os médicos e à população que esta é a única teoria científica.
E dá-lhe departamento de marketing para lidar com os
problemas desta teoria furada. Quer um exemplo? O próprio nome efeito
colateral já é uma invenção mercadológica. A ciência a chama de efeito
secundário ou indesejado, mas como assim? Esse efeito não tem nada de
inesperado: é o efeito da droga, mesmo. Achar que ela atua naquele local ou
naquela célula e só é um raciocínio que não tem nada de científico. A droga não
tem esta especificidade que tentam nos mostrar.
É por isso que me diverti ao assistir no final do DVD What
the Bleep!? – Down the Rabbit Hole, traduzido aqui por Quem Somos Nós? Uma Nova
Evolução (meu amigo Gustavo Gitti tem
uma síncope cada vez que alguém fala neste filme). O físico John Hagelin,
criador da Teoria dos Campos Unificados, está numa mesa-redonda e profere esta
frase emblemática: “o problema das pessoas é achar que a comunidade científica
é científica”. A audiência cai na gargalhada diante da afirmação feita por um
cientista.
Eu chego a brincar em minhas palestras que “todo cientista é
um poeta”. Na verdade, eu quero dizer que muito daquilo que muitos consideram
ciência está baseado em teorias não comprovadas. É por isso que considerado um
erro semântico considerar a medicina ortodoxa como medicina científica.
Sendo sincero, precisamos de uma boa dose de crença para
acreditar na ciência. Não é piada.
Recomendo o livro O Cérebro Emocional, do
neurocientista Joseph Ledoux.
No livro ele conta a história da neurociência desde os primórdios até os dias
atuais. Você ficará impressionado ao descobrir que muitos dos conceitos
sedimentados pela ciência são, na verdade, abstrações.
Nenhum problema nisso, mas o que me chama a atenção é que
vem alguém e baseia todo seu pensamento num conceito. Nenhum problema nisso,
mas seus defensores acabam por acreditar (de novo, a crença) naquilo como
verdade absoluta e perseguir os detratores da “verdade”.
A Falácia do Racionalismo
Não estou aqui criticando o racionalismo científico, mas
apenas desmistificando-o. A atuação médica ortodoxa se baseia e é defendida
pelos seus seguidores numa imagem de cientificismo patrocinada pela indústria
química e farmacêutica. Que, na prática, são subsidiárias da indústria
petrolífera, já que a maioria de seus produtos é derivada do petróleo.
Pode até ser científica, mas está substancialmente atrasada.
A atuação médica atual se baseia exclusivamente na física newtoniana, algo que
data do século XVIII. Não, crianças. Não estou excluindo a física newtoniana,
mas estou cansado de ter de ouvir de meus colegas que eles não acreditam
(crença, mais uma vez) em outras coisas, como física quântica, por exemplo. Eu
me divirto ao ouvir isto e respondo: entendi, então você não acredita em
ressonância nuclear magnética, nem nos supercondutores que movimentam o
trem-bala?
Outros, mais espertos, rebatem: mas a física quântica
só funciona no campo das coisas infinitamente pequenas, não com corpos
materiais mais densos. Se você é um desses, aconselho a ler o livro A
Ciência e o Campo Akáshico, de Ervin Laszlo, publicado no Brasil pela editora
Cultrix. Lá você aprenderá que os princípios da física quântica se aplicam a
todos os corpos, inclusive os celestes, incluindo planetas, sóis e galáxias.
Quanto mais no seu corpinho.
É, de novo, a crença... a crença na física newtoniana e no
seu deus, a lesão tecidual, que faz o médico dizer para você: não sei por
que você está sentindo dor, seus exames não mostram nada. Na medicina lesional,
se não há lesão não há doença. Em compensação, se há lesão, basta retirá-la, ou
tratá-la que você estará curado.
Não há nada de racional na crença de que extirpando a lesão
o problema está resolvido. Não há nada de racional na crença de que se o
estômago está inflamado é só usar um remédio para diminuir a acidez... o resto
da vida. Não há nada de racional na crença de que basta retirar a vesícula
cheia de cálculos para resolver seu problema. Na verdade, o que está agredindo
a mucosa do estômago, o que está produzindo cálculos na vesícula? A atuação
médica não se preocupa com essas questões: Eu já tirei sua vesícula, sua
cirurgia foi um sucesso, acho que esta dor é psicológica. Você deve estar estressado;
eis aqui um remedinho para tratar sua ansiedade.
O Corpo Não Adoece Por Partes
Não há qualquer lógica na crença de que o corpo adoece por
partes. A tiroide está ruim, extirpe-a. O fígado está baleado, trate-o. E
pronto! Você está curado. Troque os órgãos anteriores por qualquer outro que
lhe venha à cabeça.
Volto a este tema mais uma vez: não é culpa de seu médico, mas do tipo de
medicina ensinado nas universidades. Os profissionais são treinados para pensar
e atuar desta maneira. Caso você assim não queira, será considerado um pária,
um crítico da profissão, passível de punição pelos Conselhos Médicos.
O Dr. Jayme
Landman, escreveu um livro que li durante meu curso médico, chamado
A Outra Face da Medicina - Um estudo das ideologias médicas. Escrito em 1984
ele já decretava: o estudante de medicina entra na faculdade um idealista
e sai um cínico.
Forte, não? Também acho, mas você já foi atendido num
pronto-socorro público? Já foi consultado por um médico em 5 minutos? Leia de
novo a frase do parágrafo anterior.
Quer entender como esta ação é sutil? Neste exato momento em
que escrevo esta frase, está havendo um encontro sobre câncer nos EUA. Nem
preciso estar lá para saber que estão sendo discutidas terapias com vacinas,
novas drogas, novos métodos de detecção precoce... Mas eis o que o Landman
falava em seu livro:
O enfoque científico das causas do câncer é distorcido por
pressões políticas e econômicas. Fala-se muito em comportamento individual e
câncer e, assim, apela-se para uma modificação de hábitos, no sentido de
diminuir sua incidência.
A sociedade atual oferece pouca oportunidade de escolha para
que alguém possa decidir onde viver, onde trabalhar, que atmosfera respirar,
que alimento comer, que anúncios ver e ouvir. Uma redução significativa de
substâncias cancerígenas no trabalho, na atmosfera, nos alimentos, só poderá
vir de uma ação política organizada. O câncer pode ser prevenido. Os
fatores políticos que bloqueiam essa prevenção, aliados de forças econômicas,
devem ser denunciados, combatidos e propalados.
A comunidade médica ainda não se posicionou como deveria. As
próprias escolas médicas deveriam mudar o enfoque tecnológico em relação ao
câncer, abolindo a visão puramente científica para uma visão sociopolítica e
econômica.
A prevenção do câncer é uma matéria idêntica à inflação, ao
desemprego e a outros grandes problemas nacionais. A arena de sua discussão não
é a Academia de Medicina ou a sociedade médica. É o parlamento. É o comício!
Quantas vezes você ouviu um político com este discurso?
Nenhuma, né? Mas político dando remédio de graça tem bastante, concorda?
E você aí não acreditando em ideologias...
O Que É Ato Médico?
Em seu livro As Razões da Terapêutica, Eduardo Almeida considera todas as
etapas do ato médico como sendo terapêuticas: o escutar, o examinar, a
solicitação do exame complementar, o aconselhamento, a interdição, a dietética
e a prescrição. Até mesmo a diagnose assume dimensões terapêuticas, principalmente,
nas sociedades altamente medicalizadas, onde a busca do "saber o que
tenho", costuma ser a primeira demanda do paciente. Na verdade, apenas o
exercício mental (raciocínio clínico) do médico pode ser considerado como não
terapêutico.
Se antes o médico atuava engajado no resultado terapêutico,
o modelo que se desenvolveu por influência da escola norte-americana desde a
década de 1970 foi paulatinamente retirando do médico este poder. Pode parecer
estranha esta afirmação, mas com uma leitura mais acurada o quadro começa a se
delinear com mais clareza. Vou resumir o pensamento do Dr. Eduardo:
Nestas últimas décadas, a terapêutica foi assumida quase que
exclusivamente pela indústria farmacêutica - produtora de pesquisa, do
medicamento e de informação (marketing). O médico tornou-se um mero receptor de
informações oriundas da indústria farmacêutica. Não houve nesse fato, ao
contrário do que muitos pensam, usurpação de um direito do médico. Houve uma
concordância e, mesmo, uma delegação; o médico delegou a produção do saber
terapêutico à indústria farmacêutica.
O estudo do saber médico perde o foco no paciente, o
enfermo, para se voltar ao modelo da produção de conhecimento sobre as doenças.
Com isso, acabou por atribuir, erroneamente, um lugar secundário à terapêutica.
Foi a ênfase no modelo newtoniano (mecânico-causal) que acabou por criar uma
ciência das doenças e os médicos passaram a serem investigadores. O processo de
intervenção com fins terapêuticos perdeu seu lugar, foi empurrado para a
periferia do núcleo de preocupação da medicina. No plano do ato médico
consumou-se o domínio da diagnose sobre a terapêutica, do diagnóstico sobre o
tratamento.
A terapêutica médica atual ficou cada vez mais reduzida ao
uso de medicamentos e à cirurgia, instâncias onde é possível a busca de
cientificidade, segundo o modelo dominante. A pergunta que os médicos deveriam
fazer é: a terapêutica é um campo onde se possa aplicar uma razão exclusiva?
O ato médico sempre se equilibrou entre o conhecer
(diagnóstico) e o agir (terapêutica). Na medicina ocidental contemporânea a
balança de desequilibrou substancialmente, com o diagnóstico ou diagnose
(ciências das doenças) sobrepujando a terapêutica. Desconhecer esse fenômeno
produz uma separação perigosa; ou seja, quanto mais a medicina se aprofunda na
busca do diagnóstico, mais difícil se torna encontrar correspondência direta no
plano da terapêutica, já que os recursos terapêuticos se encontram em outro
plano.
A terapêutica não é um campo dependente da diagnose, pois
tem brilho e personalidade próprios. Grande parte da conduta médico-terapêutica
não encontra amparo nas teorias médica, e sim na cultura, na vida
socioeconômica, na ideologia e na experiência do terapeuta. A terapêutica deve
ter como principal parâmetro de avaliação o resultado, e não a coerência lógica
de seus pressupostos; assim, não haveria incompatibilidade entre os vários
sistemas terapêuticos. A prática terapêutica se sustenta, empiricamente, na
própria terapêutica; não há, portanto, a necessidade de ser validada pela
fisiopatologia. Não caberia, assim, à terapêutica o ônus principal de
demonstrar os fundamentos e possíveis mecanismos envolvidos.
A terapêutica é um campo de afirmação do empirismo, ou dito
de outra forma, a manifestação de uma ciência empírica. O empirismo nos
ofereceu não só a grande maioria dos medicamentos, mas também a possibilidade
de considerar a interação do medicamento com a complexidade e a singularidade
do organismo. Contrapõe-se, assim, à característica fundamental do medicamento
segundo a lógica racionalista - ação do medicamento definida pela estrutura
química sem considerações sobre o organismo receptor. Os livros que descrevem
os fracassos da medicina ao longo da história mostram a realidade do
desenvolvimento médico. Apesar de até rirmos de determinadas práticas
medievais, milhões de pessoas continuam morrendo ainda hoje por conta das
intervenções médicas aprovadas pela ciência.
Se você não concorda com estas conclusões não se preocupe.
Desde Hipócrates, o pensamento médico se move entre essas duas tendências
básicas - o racionalismo e o empirismo. A evolução médica produziu inúmeras
rupturas e mudanças, mas não romperam a essência desse processo.
Mas é impossível reconhecer o brilhantismo das observações
do Eduardo Almeida. Para ele, ao contrário do que poderíamos pensar, a
hegemonia da diagnose não surge com a medicina ocidental contemporânea, mas
acompanha o pensamento racionalista na medicina. O problema atual apenas é mais
sério, pois acentua, na prática, o descompasso entre diagnose e terapêutica. E
se você acha que isto significa a vitória do discurso mecanicista, a simples
observação de que mais de 90% dos medicamentos foram (e são) "produtos do
empirismo" mostra que o campo da terapêutica ainda não entregou os pontos.
Tanto é verdade, que descobrir o mecanismo ou a causa de muitas doenças
(inclusive as mais simples), não implica na descoberta da terapêutica
apropriada.
A medicina evoluiu tanto, mas não consegue dizer por que as
pessoas têm soluços. Ou por que o nariz escorre quando colocamos os pés no
chão.
Os Protocolos
Não ache que somente os médicos ortodoxos são os atingidos
por esta forma de pensar. Mesmo os ditos alternativos, mesmo aqueles que
reconhecem que existem enfermos, não enfermidades, assim que veem seus
pacientes, os catalogam como pessoas que sofrem desta ou daquela enfermidade.
E, sem tirar a responsabilidade do paciente, quantas vezes você foi ao médico e
perguntou: mas, Dr. O que eu tenho?
Ao catalogar cada paciente com uma doença posso procurar em
meus livros ou na memória a maneira de tratá-lo. Todo estudante e recém-formado
possui seu livro de diagnósticos e esquemas terapêuticos que servem a todos os
doentes. À medida que o tempo passa, mais ele abandona o livro e segue sua
experiência, e por que não dizer, sua intuição (uma palavra que os médicos
odeiam).
Sempre foi assim, desde que o mundo médico é mundo.
Com o passar do tempo, os médicos foram se especializando em
áreas específicas. De tal maneira que foi necessário reuni-los em Sociedades
Médicas (Sociedade de Cardiologia, de Ginecologia e Obstetrícia etc.). Essas
Sociedades passaram a ser o órgão de discussão da especialidade, definindo
padrões de conduta e estabelecendo os chamados Protocolos Terapêuticos.
Isso parece bom, não? Protege o paciente, não?
Será?
Uma análise simples poderia dizer que sim, mas observemos o
perigo embutido neste pensamento. Se antes os protocolos serviam como base, o
problema agora é mais amplo: eles se tornaram quase que obrigatórios. Não digo
que é obrigatório, pois sempre existem aqueles que se dão conta de seus
inúmeros fracassos a despeito do tratamento “correto” ou que ficam cansados de
repetir tratamentos que não curam, apenas mascaram sintomas e cronificam as
doenças. Mas, estes, ao sair do manto protetor do “protocolo”, se tornam presas
fáceis dos Conselhos Médicos: você não fez o que preconizava a sua
Sociedade Médica. Se sigo o preconizado e o paciente não melhora, ou mesmo vem
a falecer, o discurso é: fiz o que devia, segui o protocolo.
Antes se seguia o protocolo apenas preguiça ou falta de
segurança. Agora, não segui-lo é avançar sobre um terreno muito perigoso.
A Formação Médica
Vamos examinar esta questão mais profundamente.
A formação médica atual é voltada para a formação de um tipo
específico de profissional: os que estão aptos a implantar tratamentos a base
de protocolos. No livro Ecologia
Celular ilustrei assim este ponto:
(...) Baseado na localização da disfunção celular há um
sintoma ou um grupo de sintomas correlacionados; estes sinais mostram que algo
está errado e que algo deve ser feito. A medicina as chama de doenças e
suprimir os sintomas não significa erradicar a doença. Não há a menor
racionalidade científica nesta abordagem. Imagine que repentinamente acenda a
luz do óleo do seu carro e em vez de parar para verificar o nível do óleo do
motor, você pare num autoelétrico e peça ao mecânico para desligar a lâmpada;
agora ela não vai mais incomodá-lo e seu motor pode “fundir-se tranquilamente”.
Tentar suprimir os sintomas, esse grito de ajuda celular, é permitir que o
processo se instale cada vez mais profundamente; é de uma ignorância atroz. É
um assassinato legalizado pelo treinamento nas escolas médicas.
E por que esta situação não muda? Numa única palavra – e sem
condescendência – dinheiro! Na década de 80, um executivo da indústria
farmacêutica deu uma bombástica entrevista ao jornal norte-americano Herald
Tribune afirmando: “O primeiro desastre é se você mata as pessoas. O segundo
desastre é se as cura. As drogas de verdade são aquelas que você pode usar por
longo e longo tempo”.
O Dr. Francisco Humberto Azevedo diz: "Se as escolas
brasileiras de medicina não ensinam a seus alunos oxigenoterapia hiperbárica,
acupuntura e homeopatia, reconhecidas como especialidade s médicas há mais de
uma década, como esperar que informem sobre outros métodos terapêuticos praticados
em outros lugares do mundo? Quem quiser aprender algo diferente, terá que
buscar no exterior e, na volta, correr o risco de ter seu registro cassado”.
O Dr. Eduardo Almeida, em seu livro “O Elo Perdido da
Medicina”, diz que o currículo das escolas médicas do mundo todo é elaborado de
maneira a garantir que os alunos saiam de lá treinados para corrigir os
sintomas. Seus hospitais e centros de pesquisa são financiados pelas grandes
indústrias farmacêuticas que investem milhões de dólares para ter certeza de
que os futuros médicos não aprendam homotoxicologia e bioquímica nutricional,
as duas principais matérias para o tratamento da doença celular.
Imagine o risco para estas empresas se a medicina
questionasse sua própria toxicidade, cirurgias desnecessárias, remoção
desnecessária de órgãos, radiação e quimioterapia; se médicos perguntassem:
“Mas, professor, por que prescrevemos drogas que suprimem os sintomas e
produzem múltiplos efeitos colaterais?” A profissão médica está assentada na
supressão dos sintomas, mas sintomas não são doenças. São sinais de alerta que
nos indicam que algo deve ser feito: mudança de hábito alimentar, de estilo de
vida, desintoxicação, reposição de nutrientes, afastamento de ambientes e
pessoas tóxicas.
Pense nisso!
E os alunos, não deveriam estar gritando e pedindo mudanças
em seu ensino? Sim, deveriam, mas acabam coniventes com este estado de coisa.
Uma vez perguntei ao Eduardo Almeida, professor da Universidade Federal
Fluminense, em Niterói (RJ), sobre isso. E ele me respondeu: Carlos, tem
aluno que se levanta no meio da aula e sai indignado com as coisas que eu falo;
alguns, com raiva, chegam a bater a porta da sala.
O próprio Dr. Jayme Landman explica o que considero as
raízes deste fenômeno no livro que já citei. Para ele a classe médica é
dividida em 3 grupos principais: os do tipo A, do tipo B e do tipo C. Os
médicos tipo A são os detentores das cátedras nas universidades, são os
presidentes de sociedades médicas, são os diretores de hospitais e serviços
renomados. Os médicos do tipo B são aqueles que querem subir de posto e
tornarem-se A um dia. Na verdade, são os que alimentam os A de pacientes, de
elogios, os que votam neles e fazem campanhas para sua permanência no cargo. Se
você pensou em puxa-sacos não posso impedi-los de pensar nisso. Aqui a relação
é simbiótica: um depende do outro. Os do tipo C são a imensa maioria, que não
quer - e muitas vezes nem pode - almejar ser A ou B.
Há um grupo que cresce cada vez mais e que não foi abordado
pelo Dr. Landman. Identifico como sendo aqueles que se rebelam e resolvem
mudar. São aqueles que não aceitam mais serem empregados de clínicas, que não
querem mais depender de seu emprego público mal remunerado e com péssimas
condições de trabalho. Ou simplesmente, aqueles que não querem ser médicos
convencionais por não acreditarem neste tipo de medicina, seja por acreditar em
outras alternativas, seja por ter se decepcionado com o resultado de sua
prática até então. São os que buscam alternativas de tratamento para seus
pacientes. Com um mercado alternativo crescente, existem aqueles que buscam
somente (se é que isso existe) ganhar algum dinheiro, mas este é um tema que
não vou abordar aqui.
Imagine, então, o aluno de uma faculdade de medicina que
está num curso que aufere tamanho poder sobre a vida das pessoas. Imagine que
ele esteja estudando numa faculdade particular, pagando mensalmente valores
entre dois mil e sete mil reais. O que este aluno quer ouvir na sala de aula:
que abobrinha e brócolis fazem bem à saúde ou sobre a mais moderna técnica para
colocação de um cateter cardíaco ou qualquer outra coisa que o valha?
Complicado, hein?
Inclua aí um jogo muito mais amplos de interesses. Da
indústria de equipamentos médicos às revistas especializadas. Da indústria
farmacêutica que gasta milhões de dólares para criar uma droga (e bilhões de
marketing para divulgá-la) às revistas e telejornais que vendem a imagem de que
a cura do câncer está próxima, que uma nova vacina para a AIDS está pronta para
ser usada em seres humanos, que descobriram uma pílula para curar a
(___________) - preencha com a doença que preferir.
E não julgue este mundo sem entender todo o processo. Se
você for o editor de um jornal ou revista semanal qual é a notícia que você
acha que vende mais? A do brócolis? E os anunciantes, então? Em qual revista
eles irão colocar seus anúncios?
Como você já pôde perceber, as peças deste jogo estão na
posição necessária para manter tudo como está. Para você ter uma ideia, o Dr.
Landman foi processado eticamente pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de
Janeiro por causa da publicação do livro do qual falei antes. A acusação:
denegrir a imagem da medicina. É claro que esta saga gerou outro livro: A Ética
Médica sem Máscaras, mas não é o tema deste artigo.
Cassações, demissões, perseguições, desacreditações... o
enredo deste samba dá um bom material para um livro de suspense, ação e
espionagem. Ou pelo menos uma novela mexicana.
A Manutenção do Poder
Max Planck disse uma vez: Uma nova verdade científica
triunfa não porque convença seus oponentes fazendo-os ver a luz, mas por eles
eventualmente morrerem e uma nova geração crescer familiarizando-se com ela. Na
mesma linha, Schopenhauer escreveu: Toda verdade passa por três fases:
primeiramente é ridicularizada; depois, violentamente negada e, por fim, aceita
como evidência.
Jayme Landman morreu em 1992, assim como muitos dos que o
processaram. Seus livros e ideias fazem parte da história da medicina, mas isto
não quer dizer que podemos falar livremente destes temas na área médica. Chegará
o dia em que o que escrevo aqui será tema de discussão nas universidades.
Até
lá...
Até lá a engrenagem do sistema continua girando. Imaginemos
um chefe de departamento ou de uma cátedra numa universidade. É ele que
determina as linhas a seguir em seu setor: o que será investigado, o que será
ensinado, o que será debatido... Os demais professores e pesquisadores
encontram-se sob seu domínio. Que tipo de bibliografia, quais autores, que
revistas indexadas são aceitas... tudo necessita de aprovação da chefia. Se
algo está fora da ordem estabelecida, não existe... e pronto!
Com isso, se garante que os médicos saiam aptos a operar
sofisticados aparatos tecnológicos: ressonância nuclear magnética, tomografia
axial computadorizada, analisadores farmacológicos e genéticos. Se observarmos
o avanço da Medicina nas últimas décadas, veremos que, na verdade, ela se
beneficiou de métodos desenvolvidos por matemáticos, físicos, químicos,
engenheiros, informáticos... Em suma, modernos aparelhos que fazem os médicos
parecerem estar na vanguarda da ciência, mas na realidade não são nem eles que
os operam. Sem esse aparato, a medicina não teria avançado tanto quanto está no
imaginário popular.
O currículo médico está limitado à física newtoniana de
causas e efeito. Quantos médicos ou estudantes de medicina conhecem o trabalho
de alguns dos cientistas mais influentes do século XX: Karl Pribram,
Heisemberg, Schrödinger, Laing, Bateson, David Böhm, Ken Wilber, Allan Watts,
David Lorimer, Stanislav Grof, Linus Pauling, Francisco Varela, Henderson,
Ervin Laszlo, F. David Peat, Richard Berger, Stanley Krippner, Rupert
Sheldrake, Larry Dossey, David Lorimer, Michael Talbot, Peter Russell, Daniel
Goleman, Claudio Naranjo, B. Grifiths, James Lovelock, Fritjof Capra?
A ditadura da medicina farmacológica impede que os médicos
tenham acesso ao conceito de Matriz
Extracelular desenvolvido por Alfred Pischinger, cujo livro
escrito em 1975 permanece fora da bibliografia ensinada nas universidades
brasileiras. Ignora a continuidade que James Oschman deu
aos trabalhos de Albert Von
Szent-Györgyi sobre energia e o sistema de informação
subjacente ao sistema nervoso. Enfim, poderia escrever parágrafos e mais
parágrafos de falando de pesquisas de alta complexidade sendo feitas no mundo
inteiro que mostram que basear o tratamento médico ao modelo newtoniano está
totalmente superado.
Para avançar além do próprio umbigo, a medicina deveria
estar discutindo esses novos conceitos para entender como aplicá-los à prática
clínica. É difícil de se crer, mas o fato é que a chamada medicina científica
está uns 50 anos defasada dos conhecimentos científicos de vanguarda.
Quem deveria ser o maior interessado neste debate? Os
próprios médicos, mas a visão estreita do mundo que os cerca impede o olhar
mais amplo. É como se o peixinho perguntasse a seu pai peixão: Pai, o que
é mar? Falta aos médicos “científicos” dar um passo atrás para poder olhar
o todo, ou usar aquilo que os empresários chamam de visão de helicóptero, ou
seja, subir acima da copa das árvores para poder olhar a floresta como um todo.
E o mais comum é encontrar médicos que dizem que alguns
conceitos não são “científicos” ou que eles “não acreditam nisso”. Como se a
Medicina estivesse no campo da crença. E mais do que acreditar na sua
“verdade”, esses médicos acabam lutando para manter o status quo. Como se
ele fosse bom...
Estou errado?
Vejamos.
Os médicos estão entre os profissionais de saúde que mais
anos de estudo necessitam antes de entrar no mercado de trabalho. Logo depois
de formados ainda tem de se submeter à exploração de hospitais e clínicas que
os usam como mão de obra barata. Diz-se que são necessários dez anos de formado
para se estabelecer em sua profissão. Num mundo onde temos presidentes de
empresas antes dos 25 anos parece demasiado, não?
Analisemos o estado de saúde física e mental da classe
médica: sofrem o dobro das patologias mentais do que o resto da população, são
os que usam três vezes mais tóxicos, os que se suicidam três vezes mais... É
uma das classes com mais alto grau de insatisfação profissional e de
remuneração. Se sentem explorados tanto no sistema público, quanto no privado.
Mais da metade, se pudesse, abandonaria a profissão. A razão básica:
esgotamento emocional por despersonalização (desumanização) que sofrem.
E o que fazem os órgãos médicos? Lutam por bandeiras práticas,
como melhores salários, melhores condições de trabalho, por tabelas de
remuneração justas com os convênios... Bandeiras estas que nunca resolverão os
problemas que citei acima.
E ainda, num perfeito trabalho coordenado com a ideologia
dominante, persegue aqueles profissionais que criticam este modelo. Vai
entender...
Como diria o poeta marginal: o buraco é mais embaixo.
Vislumbrando Uma Saída
O saber médico só retomará sua autoestima e autonomia quando
passar a desmistificar o modelo do desenho racional do medicamento e, por
consequência, a imagem de cientificismo patrocinada pela indústria farmacêutica
e apropriada pela medicina. O desenho racional do medicamento seria um modelo
idealizado em que teríamos um determinado medicamento previamente desenhado
(ação e mecanismo de ação) para agir em determinada doença. Ou seja,
descobre-se e se conhece um medicamento, para depois se o usar em uma doença
com mecanismo semelhante.
Isso quase nunca ocorreu na história da terapêutica química
moderna. Os medicamentos têm sido descobertos ao acaso, nos processos de
testagem em massa (screening) e na modificação de moléculas (cópias). Essas
evidências corroboram a afirmação do famoso médico empírico Celsus,
contemporâneo de Galeno: O remédio não é uma descoberta que segue um
fundamento, mas só após a sua descoberta é que se lhe busca o fundamento.
Enquanto este mito não for desconstruído permanecerá a
errônea noção de que a terapêutica médica se sustenta apenas no conhecimento
biomédico e na farmacologia. Se fosse assim, como explicar o trabalho da
Dra. Lynn Payer sobre
a influência da cultura no estilo de pensamento médico?
Ela analisou a prática médica em quatro países e descobriu
que o diagnóstico e a terapia variam de lugar a lugar: num pode ser reconhecida
oficialmente, em outro ser considerado um procedimento condenável (malpratice).
Se você pensou em países de terceiro mundo se enganou: segundo ela, na França,
os médicos diagnosticarão sintomas imprecisos como espasmofilia ou algo a ver
com o fígado; na Alemanha explicarão que é devido ao coração, queda de pressão
arterial ou distonia vasovegetativa; na Inglaterra receberá o diagnóstico de
distúrbio emocional, como depressão; e nos EUA é provável que o diagnóstico
seja de virose ou de causa alérgica.
Hummm... Interessante, não? Quantas vezes você já foi ao
médico aqui no Brasil e recebeu o diagnóstico de “virose”, “alergia”, “dor de
crescimento”? Bem científico, não?
Na França, se usam menos procedimentos invasivos nas UTI’s
do que nos Estados Unidos, mas os pacientes se recuperam da mesma maneira em
ambos os países. O termo alemão Herzinsuffizienz, frequentemente traduzido
como insuficiência cardíaca, na verdade não tem tradução na Inglaterra, França
ou EUA, pois não é considerada uma doença. Coincidentemente ou não, os alemães
usam seis vezes mais remédios para o coração do que os franceses ou ingleses.
Existem mais de 90.000 quiropraxistas no mundo todo e a
profissão sequer é regulamentada no Brasil. Os norte-americanos atravessam a
fronteira com o México para se tratarem de câncer com procedimentos que são
proibidos em seu país. O ozônio é largamente utilizado na Alemanha, mas no
Brasil é proibido pela ANVISA.
Onde está a racionalidade científica?
Somente resgatando a autonomia terapêutica em relação às
teorias médicas e aos modelos explicativos do adoecimento irá trazer à tona a
individualidade. Só assim, a medicina resgataria sua dimensão de arte, capaz de
lidar com a singularidade de cada enfermo.
Não caia na tentação de acusar este artigo de ser contra o
diagnóstico. O valor da diagnose não está sendo desconsiderado. Diferença
é sutil, mas existem diagnose e diagnose, mas como diz Eduardo Almeida, não
é indispensável o diagnóstico da entidade nosológica (agente causador) para se
estabelecer uma terapêutica.
Também não cabe negar os avanços proporcionados pela
terapêutica química atual, apenas está sendo feita uma crítica ao pensamento
simplificador e aos interesses econômicos, que "fecham os olhos" a
uma série de evidências fundamentais que deveriam estar conduzindo a atuação
médica para um plano mais eficiente e seguro.
Este artigo visa questionar o discurso científico que teima
em demarcar territórios e estabelecer “verdades” como se tudo não pertencesse à
esfera da vida.
É por isso que quando vejo alguém proferindo um discurso
sobre a ética ou que determinado atitude foi tomada pensando no bem da
população o primeiro pensamento que me vem à cabeça é: tem dinheiro e/ou poder
envolvido na história.
Simplificando: o discurso ético é o último recurso do
canalha.
É Necessário Mudar o Atual Paradigma Médico
Mesmo sem entrar em detalhes, vamos analisar o caso do
tratamento de câncer. Os aparatos tecnológicos mais sofisticados para o
diagnóstico precoce dos cânceres mais simples auxiliam na instituição do
tratamento antes da doença se espalhar, mas nos cânceres mais agressivos e
mortais não houve mudança significativa nos últimos 50 anos. Se analisarmos as
estatísticas desde então, veremos que não houve mudança substancial na
expectativa e na qualidade de vida dos doentes. O mesmo número de pessoas
continua morrendo a despeito de o noticiário mostrar todos os dias os “avanços”
no tratamento.
Na verdade, não há um só produto usado na quimioterapia do
câncer que tenha mostrado num ensaio clínico ser capaz de curar o câncer. Não
há um ensaio clínico mostrando que a ingesta de um coquetel de fármacos seja
eficaz. Por isso, é um absurdo afirmar que os únicos tratamentos oncológicos
validados cientificamente incluem cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
É como se a ciência, deliberadamente, brincasse com a vida
das pessoas, alegando que tratamentos fora do convencional são proibidos para
“nosso próprio bem” (sugiro reler a frase que terminou o item anterior). Ao
contrário, ideias como a de Ryke Geerd
Hamer (as leis de ferro do câncer), de Tullio Simoncini(alcalinização
com bicarbonato), de Max Gerson (nutrição
para o câncer) são ridicularizadas, levando seus criadores à prisão ou à
cassação do direito de clinicar. Uma passeada pela internet seria bem
instrutiva, caso você nunca tenha ouvido falar neles.
O que está em questão não é se estas ideias funcionam ou
não, mas que o fato de que elas nem são discutidas na universidade, e nem nos
cursos de especialização médica. Em vez de discutir e vir a público dizer o que
funciona e o que não funciona, as entidades médicas simplesmente decretam: isto
não tem fundamento.
Como assim? Pessoas estão se tratando e melhorando. É o que
discutimos anteriormente: o discurso científico acaba por jogar fora uma
terapêutica que pode funcionar, somente por ela não parecer estar de acordo com
o racionalismo médico.
E depois vêm me dizer que é para o bem da população?
Sei...
Quem deveria estar na linha de frente desta revolução? Os próprios
médicos. Se a universidade não ensina, cabe a eles buscar informação. Só isso
já daria a eles a liberdade do livre pensar. Em vez de se fechar em suas torres
de marfim deveriam pressionar os órgãos e conselhos médicos a agirem nesta
direção, em vez de denunciar os colegas de profissão que não seguem a cartilha.
Outra reflexão que peço aos médicos: os Conselhos Médicos
não deveriam estar na linha de frente desta discussão, em vez de cuidar de
manter o sistema tal como está? Qual o grau de satisfação com a atuação desses
órgãos representativos? E por último, quantos de vocês continuariam a pagar
seus respectivos conselhos se não fosse obrigatório?
Claro que não é simples romper com dogmas estabelecidos e
convicções fortemente arraigadas, mas é prudente que questionem o tipo de
informação que chega a eles. Essas mudanças não virão gratuitamente e sem luta
ferrenha. Devem se preparar para o contra-ataque, pois afinal, a saúde, antes
de tudo, é um próspero negócio.
Da mesma maneira que se montam casas geriátricas, nem tanto
pela necessidade social, mas pelo dinheiro que geram, os acionistas de uma
indústria farmacêutica não se reúnem para discutir se os consumidores, no caso,
pacientes, estão mais saudáveis. Acreditar na ética e respeito ao ser humano
que o marketing das grandes corporações propagandeia é de uma
ingenuidade imbecil.
OK, ninguém acredita nelas, mas então, será que não dá para
desconfiar da boa vontade da indústria farmacêutica para investir em
congressos, encontros, viagens, brindes e toda sorte de corrupção de almas
médicas? É no mínimo ser conivente, não?
E mesmo para alguém imune a este tipo de ação direta existem
as estratégias mais sutis. Em vez de controlar a ação de cada profissional,
basta infiltrar ou cooptar alguém de dentro do sistema. São inúmeros os casos,
de legisladores que batalham para aprovar uma lei ou resolução, para em seguida
se desligarem do órgão e assumirem um cargo na indústria beneficiada por ela.
Quantos jornalistas foram calados pela simples ameaça de
retirar a verba publicitária do jornal e da revista caso determinada matéria
fosse publicada? Quantos políticos são financiados pela indústria da saúde? O
Parlamento Europeu, por exemplo, possui em seus quadros vários executivos de
empresas farmacêuticas. Imaginem o estrago que pode ser feito por alguém com
tamanho poder sobre a legislação e a polícia.
Intimidador, não?
Como confiar no tipo de informação recebida todos os dias
pelos meios “oficiais”. É como se colocássemos o lobo para ensinar táticas de
defesa às galinhas. Ele pode até ensinar alguma coisa, mas você acha que ele
mostraria realmente como de defender dos lobos?
Se este paradigma não for mudado, o sistema de atendimento
médico à população continuará ineficaz e o caos reinante continuará crescente.
Os serviços de saúde municipais, estaduais ou federais estão sobrecarregados,
os médicos são mal remunerados, a imensa maioria dos plantonistas hospitalares
são recém-formados inexperientes. As listas de espera para consultas, exames,
procedimentos cirúrgicos geram casos que se tornam uma vergonha estampada nos
telejornais dia após dia. Hospitais sem vagas geram cenas dantescas nos
prontos-socorros abarrotados de pacientes jogados pelos corredores aguardando
atendimento em macas improvisadas.
Quer ver como é difícil lidar com este quadro e a própria
medicina cuida para que isto não aconteça?
Há alguns anos, a Prefeitura de São Paulo tentou implantar
as casa de parto. Em vários países as crianças vêm ao mundo pelas mãos de
parteiras, mas o Conselho Estadual de Medicina não aceitou e lutou para sua não
implantação. Como a prefeitura bateu o pé e quis implantar a resposta foi
imediata: se for implantado, o Secretário de Saúde terá seu diploma
cassado, e o mesmo acontecerá com o próximo. Resultado: não foi implantado.
Numa das epidemias de dengue, as secretarias de saúde de
algumas cidades do interior de São Paulo passaram a distribuir, gratuitamente,
compostos preventivos homeopáticos. Coincidentemente... ou não... os índices da
doença eram menores do que nas cidades vizinhas. O que fizeram as entidades
médicas? Isso não tem validade científica, parem a distribuição.
Pois é, vivemos num mundo estranho, assentado num sistema
que só aceita e utiliza tratamentos ortodoxos paliativos ou que lidam somente
com os sintomas, sem buscar a cura real. Que usa medicamentos com tantos
efeitos colaterais que se calcula chegar a 30% o número de pacientes atendidos
nas emergências por problemas gerados por estas drogas. Um trabalho publicado
em 2001, no próprio Jornal da Associação Médica Americana (JAMA) mostrou que a reação
adversa aos medicamentos prescritos pelos médicos atinge mais de 100.000
norte-americanos a cada ano, transformado-a na terceira causa de morte nos EUA.
Se você ainda não se deu conta do que isto significa, vou
explicar melhor: as cinco principais causas de morte nos EUA naquele ano foram,
na ordem, tabaco, álcool, imperícia médica, acidentes automobilísticos e arma
de fogo. Parece incrível, mas o tratamento médico foi responsável por matar
mais pessoas do que os acidentes e armas, juntas. O número de pessoas mortas
por dia equivale à mesma quantidade de pessoas que morreriam se, a cada dia, 3
aviões Jumbo caíssem matando todos a bordo. Se isso não dá o que pensar não sei
mais o que daria.
Se formos analisar um departamento médico num hospital ou um
laboratório de pesquisa de sucesso veremos que por trás deste sucesso há um
financiamento externo, quase sempre advindo de uma indústria farmacêutica ou de
equipamentos médico-hospitalares. Eventualmente algo sai do controle e vêm à
tona histórias de gratificações e escândalos de suborno que chegam às páginas
policiais. Se você pensou que talvez esses não sejam casos isolados, mas
respingos de uma prática largamente utilizada, não tenho argumentos para
rebater.
Você já se deu conta de que as notícias sobre saúde são
sempre as mesmas, independente no veículo de mídia? Uma notícia no jornal de
noite aparece no jornal impresso do dia seguinte, que é repetida durante a
semana nos outros canais de TV. Vou lhe contar como funciona a divulgação de
notícias científicas em medicina.
Um laboratório, financiado por uma empresa, está trabalhando
numa droga, ou vacina, ou terapia genética. Seu prazo para terminar a pesquisa está
se esgotando e ele precisa mostrar algum resultado para não perder o dinheiro.
Então, divulga a bombástica informação de que esta nova droga ou tratamento tem
mostrado resultados promissores na cura do (______________) – preencha com a
doença de sua preferência. A notícia não é divulgada na imprensa leiga,
inicialmente, mas num sistema de geração de notícias médicas.
Todas as notícias médicas são centralizadas em umas 2 ou 3
agências de notícias. Basta eu mandar uma nota ourelease para elas que se
encarregam de enviar o que interessa às grandes agências de notícias dos
grandes jornais e estações de TV e rádio dos EUA. Depois de alguns dias a
notícia chega aos ouvidos da população. Pense na quantidade de tratamentos
“promissores” que nunca saíram do papel ou nunca chegaram a serem lançados.
Não ache que todo chefe de laboratório é tão mau assim.
Muitos agem dessa maneira para manter o dinheiro que financia seu laboratório
que está, na verdade, fazendo outras pesquisas mais relevantes, mas
precisa jogar para a torcida do seu patrocinador.
Agora, vamos imaginar que algumas destas drogas serão
lançadas no mercado. A empresa farmacêutica já tem seus resultados
preliminares, já fez as contas sobre o potencial de mercado da droga, já fez
previsões sobre o lucro gerado por aquele novo medicamento. Ela precisa, agora,
convocar alguns serviços médicos para testá-la, através de um trabalho de
pesquisa. E alguns desses médicos e/ou serviços são patrocinados pela empresa.
Digamos que de 6 trabalhos, 2 mostram bons resultados, 2
resultados ruins e 2 resultados inconclusivos. A empresa descarta os trabalhos
ruins e inconclusivos e manda os de resultado bom para os órgãos de aprovação.
Fácil, não?
Neste quadro desolador, fica claro que os ensaios clínicos
utilizados para aprovar um medicamento são deficientes e facilmente
manipuláveis. A retirada do mercado de medicamentos que foram utilizados por
algum tempo até que se percebesse que estava prejudicando seus usuários corrobora
esta prática irresponsável. Em alguns casos, pode inclusive levar à morte de
pessoas, como no caso de um conhecido anti-inflamatório já retirado do mercado,
cujos relatórios apontam para o fato de a empresa fabricante ter escondido sua
toxicidade. Resultado: estima-se que 140 mil pessoas tenham morrido devido a
seu uso somente nos EUA (alguns falam em 500 mil).
A Cronificação da Doença
Baseado no que foi dito até aqui, passa a não ser estranho
que a maioria dos fármacos atuais, em vez de curar, visa cronificar a
enfermidade; são meros paliativos (ou sintomáticos). Quem não conhece alguém
que já saiu da consulta médica com a recomendação de que não deveria nunca mais
abandonar o remédio: é para tomar o resto da vida?
As drogas antigas e consagradas desaparecem paulatinamente
do mercado e são substituídas por outras mais modernas, mas ao mesmo tempo mais
perigosas e com mais efeitos colaterais. Com mais efeitos colaterais, entra em
campo outra geniosidade da indústria farmacêutica: outro remédio para lidar com
o efeito colateral do primeiro. Ou um terceiro para lidar com o efeito
colateral do segundo. Não é incomum eu lidar com pacientes de 50 anos que tomam
4 ou 5 drogas diferentes para lidar com vários órgãos e sistemas. Seja você
médico ou paciente, me diga com sinceridade: é possível olhar para este quadro
e achar normal?
O fato preocupante é que as ações de saúde são feitas
tomando-se por base as boas intenções de uma indústria que só está preocupada
em manter o estado de coisas atual. É por isso que a maioria das pessoas ignora
como este poder é exercido. Por exemplo, o FDA (Federal and Drug Administration)
órgão máximo norte-americano que define o que deve ou não ser consumido pelo
povo daquele país não é um órgão tão independente assim. O imaginário popular
(e médico) o considera um órgão sério, mas é difícil acreditar que ele não está
a serviço da indústria farmacêutica.
Como falei acima, para que um medicamento seja considerado
aprovado, bastam dois trabalhos positivos. Quem faz estes trabalhos: a própria
empresa fabricante da droga. É claro que é obrigatório seguir critérios básicos
toxicológicos, animais e clínicos. Só quem estabelece estes critérios é a International
Conference on Harmonization (ICH) que por sua vez foi fundada pela International
Federation of Pharmaceutical Manufacturers &
Associations (IFPMA). Se você se atrapalha com o inglês, eu traduzo:
Federação Internacional de Associações de Fabricantes de Medicamentos. Em suma,
a indústria elabora suas próprias regras e se autocontrola. Se isso não
significa exercer poder absoluto no setor não sei mais o que seria.
Controlando a investigação e a publicação dos resultados,
controlando as instituições reguladoras, controlando os médicos e outros
profissionais de saúde, controlando as verbas de pesquisa e a montagem dos
laboratórios e departamentos universitários e hospitalares... Pense comigo: eu,
profissional de saúde, deveria aceitar passivamente que minha prática fosse
estabelecida por um organismo com tantos tentáculos?
É por isso que, quando você pergunta a seu médico sobre um
tratamento alternativo ele responde que não há nada comprovado sobre ele.
Comprovado significa que não foi publicado, que não foi apresentado num
congresso, que o propagandista do laboratório não levou um trabalho mostrando
que a arnica funciona, ou que o gengibre auxilia na enxaqueca... mas qualquer
mãe de santo sabe que funciona... e os seus clientes, também.
As próprias associações de doentes são patrocinadas da mesma
maneira. Isso garante que os pacientes recebam as mesmas informações que os
médicos. Na verdade, as associações foram criadas como elementos de suporte e
busca de alternativas de tratamento às várias doenças, mas isso preocupou tanto
a indústria farmacêutica que acabou por aproximar-se delas para controlá-las. O
mecanismo de controle é o mesmo: patrocínio de suas atividades e de seus
veículos de comunicação. A engrenagem é feita para girar somente numa direção e
esmagar os opostos. Quem assistiu ao filme O Óleo de Lorenzo pôde
acompanhar isso que estou dizendo. No filme, um dos opositores ao novo
tratamento era a própria associação de pais das vítimas das doenças.
Com os médicos ocorre o mesmo: quem você acha que são os
patrocinadores das revistas e dos congressos? Uma boa reflexão sobre este tema
foi escrita pelo Dr. Alexandre
Feldman.
Pois é, com o discurso em nome da ciência o que está em jogo
é a manutenção de um negócio.
Um Convite
Muitos médicos se ficarão indignados ao ler este artigo e se
sentirão injustiçados. Não é minha intenção ferir suscetibilidades e me
desculpo antecipadamente se exagerei nas críticas. Como autor e médico
empírico, muitas vezes é impossível me manter afastado de minhas convicções.
Como mostrei, não é à toa que uma profissão identificada no
passado com as causas humanitárias, reconhecida e respeitada pela população que
podia confiar plenamente em seus membros, se veja agora reduzida a um mero
participante de um negócio onde a saúde e a dignidade das pessoas importam cada
vez menos. A medicina deixou para trás seus princípios mais sagrados e por mais
que muitos queiram reclamar, a imensa maioria da população irá concordar com
minhas palavras.
Se fui contundente em algum momento é pela necessidade de
tirar a profissão médica da letargia, pois identifico que são exatamente os
médicos – e os pacientes – os principais afetados por este estado de coisas.
Entretanto, mais do que reclamar, acusar ou apontar culpados
meu intuito é contribuir para o debate.
E você não precisa acreditar em mim; o que peço é que pense,
avalie, experimente alternativas... e tire suas próprias conclusões. Aqui, o
mantra amplie sua consciência não tem nada de esotérico. É a única
maneira de não tomar suas decisões em cima de informação manipulada ou
adulterada.
Sua vida e sua saúde – e sua profissão – dependem disso!
Artigo publicado em abril de 2012 especialmente para a
revista Papo de Homem
Autor: Dr. Carlos Braghini Jr.
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