quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tio Tonico - Onde o excesso de remédios e falta de promoção de saúde nos leva

Tio Tonico
Onde o excesso de remédios e falta de promoção de saúde nos leva

(O texto abaixo não é de minha autoria mas peço-lhes que leiam com atenção)

“Meu tio Tonico estava bem de saúde,até que sua esposa, minha tia Marocas, a pedido de sua filha, minha prima Totinha, disse:
-Tonico, você vai fazer 70 anos, está na hora de fazer um check-up com o médico.
- Para quê, estou me sentindo muito bem!
-Porque a prevenção deve ser feito agora, quando você ainda se sente jovem, disse minha tia.
Então meu tio Tonico foi ver um médico. O médico, sabiamente, mandou-o fazer testes e análises de tudo o que poderia ser feito e que o plano de saúde cobrisse.
Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons, mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. Então receitou:
Comprimidos Atorvastatina para o colesterol
Losartana para o coração e hipertensão,
Metformina para evitar diabetes,
Polivitaminas para aumentar as defesas,
Norvastatina para a pressão,
Desloratadina em alergia.
Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago, então ele indicou Omeprazol e um diurético para os inchaços.
Meu tio Tonico foi à farmácia e gastou boa parte da sua aposentadoria em várias caixas requintadas de cores sortidas.
Nessas alturas, como ele não conseguia se lembrar se os comprimidos verdes para a alergia deviam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago e se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico. Este lhe deu uma caixinha com várias divisões, mas achou que titio estava tenso e algo contrariado. Receitou-lhe, então, Alprazolam e Sucedal para dormir. Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com as receitas, o farmacêutico e seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar através do meio, enquanto eles aplaudiam.
Meu tio, em vez de melhorar, foi piorando.
Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saia mais de casa, porque passava praticamente todo o dia a tomar as pílulas.
Dias depois, o laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Cliente Preferencial”, um termômetro, um frasco estéril para análise de urina e lápis com o logotipo da farmácia.
Meu tio deu azar e pegou um resfriado. Minha tia Marocas, como de costume, fez ele ir para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico.
Ele disse que não era nada, mas prescreveu Tapsin para tomar durante o dia e Sanigrip com Efedrina para tomar à noite. Como estava com uma pequena taquicardia, receitou Atenolol e um antibiótico, 1 g de Amoxicilina. A cada 12 horas, durante 10 días. Apareceram fungos e herpes, e ele receitou Fluconol com Zovirax.
Para piorar a situação, Tio Tonico começou a ler as bulas de todos os medicamentos que tomava, e ele ficou sabendo todas as contra-indicações, advertências, precauções, reações adversas, efeitos colaterais e interacções médicas.
Leu coisas terríveis. Não só poderia morrer mas poderia ter também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental e um monte de coisas terríveis.
Com medo de morrer, chamou o médico, que disse para não se preocupar com essas coisas, porque os laboratórios só colocavam para se isentar de culpa.
- Calma, seu Tonico, não fique aflito, disse médico, enquanto prescrevia uma nova receita com um antidepressivo Sertralina com Rivotril 100 mg. E como titio estava com dor nas articulações deu Diclofenac.
Nessa altura, sempre que o meu tio recebia a aposentadoria, ia direto para a farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.
Chegou um momento em que o dia do pobre do meu tio Tonico não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insônia que haviam sido prescritas. Ficou tão ruim que um dia, conforme já advertido nas bulas dos remédios, morreu.
No funeral tinha muita gente mas quem mais chorava era o farmaceutico.
Agora tia Marocas diz que felizmente mandou titio para o médico bem na hora, porque se não, com certeza, ele teria morrido antes.
Este e-mail é dedicado a todos os meus amigos, sejam eles médicos ou pacientes!... Qualquer semelhança com fatos reais será “mera coincidência”.


Minha opinião:
Por que Tio Tonico passou por tudo isto e finalmente morreu? Porque:
-       MUITOS remédios são prescritos abusivamente como “para prevenção” quando na verdade sua ação e quantidade de efeitos colaterais não respalda esta indicação;
-       Real prevenção passa por ênfase nos Hábitos Saudáveis de Vida (http://www.icaro.med.br/a-base-de-tudo/), o que não foi priorizado para Tio Tonico em momento algum da sua jornada citada acima;
-       É muito comum que um remédio “interaja” com os demais e os efeitos podem ser muitos e por vezes desagradáveis e até danosos
-       Se o paciente só piora à medida que mais tratamentos e medicamentos são instituídos, será que sua doença está simplesmente “evoluindo” (possível, em alguns casos) ou o tratamento precisa ser reavaliado e mudado?
-       Não teve apoio multidisciplinar, o que cada vez mais é reconhecido como o que realmente é mais eficaz; ou alguém duvida que se tivesse passado por Psicólogo, Nutricionista e afins Tio Tonico teria mais chances de estar vivo e bem?

Em síntese, penso (e 13 anos de Medicina têm me confirmado isto) que
ANTES de remédios, salvo em situações de urgência, o paciente precisa ser estimulado primeiro a fazer sua parte e cuidar melhor de si mesmo ou raramente seus tratamentos surtirão bons resultados (se algum). Afinal, quando um paciente é avaliado e tratado, é estabelecido um contrato entre ele e o médico onde cada um TEM que entrar com o melhor de si, 50% de cada parte; e se “quando um não quer, dois não brigam”, é impossível o paciente melhorar ou curar-se conforme esperado se a atividade médica não ajudar mas acima de tudo, se ele não colaborar...

Boa semana para todos!

www.icaro.med.br