sábado, 22 de fevereiro de 2014

Regulando o quê mesmo?


Fui surpreendido hoje.

Uma paciente me indicou a leitura de uma notícia no endereço


Em resumo, a ANVISA proibiu a comercialização de mais quatro suplementos alimentares no Brasil. Isto não é nada incomum aqui. As proibições são muitas e, muitas vezes, ganham grande espaço na mídia (como visto em Proibir X Educar).

O que me surpreendeu, de fato, não foi a notícia. Como já citei, proibições são muito comuns por aqui. A surpresa reside nos argumentos citados pela reportagem. Vamos vê-los um a um:

ISOFAST-MHP
ARGUMENTO: conter BCAA na sua composição.
COMENTÁRIO: é difícil até de comentar isso. A Isofast é composta por whey (proteína do soro do leite) hidrolisada, que é a proteína natural com maior teor de BCAAs e sua composição. Era pra ter o quê?

ALERT 8-HOUR-MHP
ARGUMENTO: conter taurina em sua composição.
COMENTÁRIO: vão proibir o RedBull? Ele também tem taurina.

CARNIVOR
ARGUMENTO: teores de vitamina B12 e B6 acima das recomendações diárias e por conter Glutamina Alfa-Cetoglutarato (GKC), Ornitina Alfa-Cetoglutarato (OKG) e Alfa Cetoisocaproato (KIC).
COMENTÁRIO: B6=6,5mg e B12=100mcg por dose. Pode fazer mal a alguém?! Estes valores de recomendações diárias precisam de uma séria revisão há muitos anos. Fora isso, pelo menos o OKG e o KIC já eram suplementos de sucesso quando eu comecei a conhecer este tema, há 22 anos atrás!

PROBOLIC-SR-MHP
ARGUMENTO: não haver comprovação de segurança de uso.(?!?!?!)
COMENTÁRIO: se não há, COMO ESTAVA LIBERADO PARA IMPORTAÇÃO E VENDA?!?!




O caso do último produto é que me leva ao questionamento máximo: se todos estes produtos apresentam "tantos problemas", por que estavam liberados para importação e venda? Esta avaliação não é feita antes? Será que estamos sujeitos a comprar mais "produtos problemáticos"? Será que produtos de renome internacional conseguiram enganar as agências de diversos países mais desenvolvidos que o nosso mas foram detectados como problema pela fantástica e altamente tecnológica ANVISA? (Nós somos o máximo!)

Ironias à parte, os argumentos são tremendamente falhos e só mostram o quanto o assunto suplementos alimentares ainda é negligenciado no nosso país. O tratamento que o tema recebe é, pra dizer o mínimo, ridículo. Não parece haver capacidade técnica suficiente para avaliação pelos órgãos normatizadores e fiscalizadores. Isso me surpreende muito, visto que alguns dos maiores gênios da suplementação alimentar estão aqui no Brasil.

Já passou da hora de isso mudar. Esta conduta, baseada em um misto de ignorância e aparente má-vontade, estimula um "mercado negro" de suplementos e a falta de informação entre os praticantes dos esportes que seriam beneficiados pelos mesmos. Muitos deles acabam recorrendo ao uso de esteróides por pura e simples desinformação. Se tivessem os suplementos corretos disponíveis e as informações claras, provavelmente não recorreriam a isso.

Finalizando, é difícil considerar as decisões de órgãos que ainda não abriram os olhos para úma das moléculas lícitas que mais mata no mundo: o paracetamol! Ele não é proibido. Ninguém regula, por exemplo, o consumo de álcool, principalmente entre os jovens. Algumas leis existem mas pouco são cumpridas. Se algum suplemento apresenta incorreções em sua composição, não deveria nem mesmo ser liberado para comercialização. De qualquer forma, é preciso um órgão regulador com competância para regular isso, agindo com transparência também.

Regulação tem que ter coerência. Tem que ter ciência.


Dr Adolfo Duarte - CRM-BA 15.557 
www.clinicasallus.com.br 
adolfoduarte.blogspot.com