Fui surpreendido hoje.
Uma paciente me indicou a leitura de uma notícia no endereço
Em resumo, a ANVISA proibiu a comercialização de mais quatro suplementos
alimentares no Brasil. Isto não é nada incomum aqui. As proibições são muitas
e, muitas vezes, ganham grande espaço na mídia (como visto em Proibir X
Educar).
O que me surpreendeu, de fato, não foi a notícia. Como já citei, proibições são
muito comuns por aqui. A surpresa reside nos argumentos citados pela
reportagem. Vamos vê-los um a um:
ISOFAST-MHP
ARGUMENTO: conter BCAA na sua composição.
COMENTÁRIO: é difícil até de comentar isso. A Isofast é composta por whey
(proteína do soro do leite) hidrolisada, que é a proteína natural com maior
teor de BCAAs e sua composição. Era pra ter o quê?
ALERT 8-HOUR-MHP
ARGUMENTO: conter taurina em sua composição.
COMENTÁRIO: vão proibir o RedBull? Ele também tem taurina.
CARNIVOR
ARGUMENTO: teores de vitamina B12 e B6 acima das recomendações diárias e por
conter Glutamina Alfa-Cetoglutarato (GKC), Ornitina Alfa-Cetoglutarato (OKG) e
Alfa Cetoisocaproato (KIC).
COMENTÁRIO: B6=6,5mg e B12=100mcg por dose. Pode fazer mal a alguém?! Estes
valores de recomendações diárias precisam de uma séria revisão há muitos anos.
Fora isso, pelo menos o OKG e o KIC já eram suplementos de sucesso quando eu
comecei a conhecer este tema, há 22 anos atrás!
PROBOLIC-SR-MHP
ARGUMENTO: não haver comprovação de segurança de uso.(?!?!?!)
COMENTÁRIO: se não há, COMO ESTAVA LIBERADO PARA IMPORTAÇÃO E VENDA?!?!
O caso do último produto é que me leva ao questionamento
máximo: se todos estes produtos apresentam "tantos problemas", por
que estavam liberados para importação e venda? Esta avaliação não é feita
antes? Será que estamos sujeitos a comprar mais "produtos
problemáticos"? Será que produtos de renome internacional conseguiram
enganar as agências de diversos países mais desenvolvidos que o nosso mas foram
detectados como problema pela fantástica e altamente tecnológica ANVISA? (Nós
somos o máximo!)
Ironias à parte, os argumentos são tremendamente falhos e só mostram o quanto o
assunto suplementos alimentares ainda é negligenciado no nosso país. O
tratamento que o tema recebe é, pra dizer o mínimo, ridículo. Não parece haver
capacidade técnica suficiente para avaliação pelos órgãos normatizadores e
fiscalizadores. Isso me surpreende muito, visto que alguns dos maiores gênios da
suplementação alimentar estão aqui no Brasil.
Já passou da hora de isso mudar. Esta conduta, baseada em um misto de
ignorância e aparente má-vontade, estimula um "mercado negro" de
suplementos e a falta de informação entre os praticantes dos esportes que seriam
beneficiados pelos mesmos. Muitos deles acabam recorrendo ao uso de esteróides
por pura e simples desinformação. Se tivessem os suplementos corretos
disponíveis e as informações claras, provavelmente não recorreriam a isso.
Finalizando, é difícil considerar as decisões de órgãos que ainda não abriram
os olhos para úma das moléculas lícitas que mais mata no mundo: o paracetamol!
Ele não é proibido. Ninguém regula, por exemplo, o consumo de álcool,
principalmente entre os jovens. Algumas leis existem mas pouco são cumpridas. Se
algum suplemento apresenta incorreções em sua composição, não deveria nem mesmo
ser liberado para comercialização. De qualquer forma, é preciso um órgão
regulador com competância para regular isso, agindo com transparência também.
Regulação tem que ter coerência. Tem que ter ciência.
Dr Adolfo Duarte - CRM-BA 15.557
www.clinicasallus.com.br
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