domingo, 7 de fevereiro de 2016

ALERTA! SER OBESO(A) VAI MUITO ALÉM DE SER “MUITO GORDO”(A)!

Pessoal, antes de criticar ou discriminar um obeso, saibam que o mesmo é uma pessoa DOENTE e necessita de tratamento! A seguir, um resumo sobre os pontos que considero importantes em relação a esta doença tão grave.

Espero poder conscientizar o máximo de pessoas sobre a gravidade desta doença cada vez mais presente no nosso dia a dia!
Abraços,
Paula Fortes CREF 014132/G-RJ
Esp. em Personal Trainer e Musculação
Esp. em Nutrição: Obesidade e Emagrecimento



A Obesidade é muito mais do que estar acima do peso. É uma DOENÇA  repleta de distúrbios tanto metabólicos como comportamentais e psicológicos.
A obesidade é designada segundo a Organização Mundial da Saúde, como “Grande quantidade de gordura corporal em relação à massa magra”
Este acúmulo de gordura localizado no tecido adiposo deriva de um balanço energético positivo crônico, que é determinado por sua vez pelo consumo alimentar elevado em relação ao gasto energético.
O balanço energético positivo pode ocorrer por três situações diferentes:
1- Combinação do aumento do consumo energético e da diminuição do gasto energético total;
2- O indivíduo mantém o mesmo gasto energético, estabelecido por suas atividades diárias, entretanto aumenta o consumo alimentar de forma progressiva;
3- O indivíduo mantém seu consumo alimentar diário porém ocorre uma diminuição de seu gasto energético pela diminuição de atividades física e/ou cotidianas diárias (ex: atletas que param de se exercitar por problemas de saúde).
Os fatores pelos quais ocorre um aumento da ingestão calórica progressiva são diversos. Dentre eles, podemos destacar:
- Hábitos alimentares adquiridos na infância pela interferência dos pais ou cuidadores e depois adquiridos na fase adulta;
- Estilo de vida;
- Fatores sociológicos e psicológicos;
- Alterações metabólicas e neuroendócrinas;
- Fatores comportamentais;
- Fatores biológicos (idade, gênero, etnia);
- Componentes hereditários.
A obesidade pode ser classificada não apenas pelo excesso de massa gorda, mas também de acordo com o acúmulo de gordura do indivíduo. Este fenômeno ocorre pois determinadas regiões do tecido adiposo possuem maior expressão de enzimas lipases de lipoproteína (LPL), favorecendo maior captação e consequentemente maior depósito em regiões específicas.
As classificações propostas para determinar o tipo de obesidade de acordo com o depósito de gordura são:
Obesidade global: O acúmulo de gordura ocorre na região abdominal, porém há também um acúmulo nos membros superiores (tríceps) e inferiores (coxa, panturrilha), ou seja, o indivíduo acumula gordura “por inteiro”.
Obesidade ginóide: Característica do gênero feminino, o estrogênio favorece aumento da LPL na região glúteo femural, levando a um maior depósito de gordura na região dos quadris e coxa.
Obesidade androide: Obesidade encontrada principalmente no gênero masculino, há um acúmulo de gordura na região abdominal, caracterizada por um aumento do tecido adiposo subcutâneo abdominal e visceral.
Obesidade visceral: Indivíduos dificilmente armazenam gordura no tecido adiposo subcutâneo, caracterizando portanto dobras cutâneas que caracterizam eutrofia ou até mesmo desnutrição. Entretanto estes indivíduos acumulam a gordura no tecido adiposo visceral, especificamente omental (gordura que recobre as vísceras), logo abaixo do abdome, caracterizanado a barriga “dura” (similar de mulheres grávidas).
Estas características possuem componente genético. Apesar de a genética não ser em 95% dos obesos um fator preponderante para o desenvolvimento da obesidade, a herança genética pode contribuir de forma mínima para o início ou desenvolvimento do processo de acúmulo de peso.
Mudanças na dieta e no nível de atividade física levaram ao aumento da prevalência da obesidade não apenas em adultos, mas em crianças, em um intervalo de tempo relativamente curto.
A genética da obesidade humana pode ser dividida em três classes, de acordo com a sua característica:
1- Obesidade Monogênica: Provinda de um único gene, mais severa e rara;
2- Síndromes da obesidade: Além do desenvolvimento da obesidade, está associado a outras patologias relacionadas a uma disfunção genética;
Há aproximdamente 20 a 30 disordens genéticas relacionadas com pacientes obesos, ou seja, além de vários sintomas diferentes, os pacientes apresentam o genótipo da obesidade. Dentre as disordens existentes, 3 são as mais encontradas:
Síndrome de Prader-Willi (PWS)
Síndrome de Bardet – Biedl (BBS)
Síndrome de Alström
Essas síndromes são acompanhadas de retardo mental, anormalidades no desenvolvimento de alguns órgãos, entre outros. Pode estar relacionado a defeitos nos genes ou anormalidades nos cromossomos, ou ligada ao cromossomo X.
3- Obesidade poligênica: Numerosos genes contribuem de forma mínima para determinar o fenótipo da obesidade.
Denomina-se obesidade poligênica quando o indivíduo se torna obeso pois o mesmo apresenta susceptibilidade genética de receber influências ambientais que promovem aumento do consumo energético e diminuição do gasto. Nestes casos a sua herança genética não é a responsável pelo aparecimento da obesidade, mas uma união de fatores que interagem para que surja o que se denomina fenótipo da obesidade. Na obesidade poligênica, há tanto uma interação gene X ambiente como gene X gene e é a razão pelo qual grande parte dos indivíduos apresentam obesidade.
Existem mais de 400 genes relacionados com a obesidade. Estes genes estão relacionados a proteínas que podem alterar diversas funções biológicas como regulação do consumo alimentar, gasto energético, metabolismo de carboidratos e lipídios, desenvolvimento do tecido adiposo, processo inflamatório, entre outros. Na obesidade poligênica, não ocorre exatamente uma doença genética ou uma síndrome, mas alguns destes genes podem apresentar polimorfismos, contribuindo de forma mínima com a etiologia da obesidade. Entretanto as influências do ambiente, da família, hábitos alimentares, sedentarismo, podem levar a alteração da expressão de outros genes, contribuindo de forma significativa para o aparecimento deste fenótipo.
Aspectos psicológicos e comportamentais da obesidade
95% dos obesos que conseguem perder gordura a recuperam novamente em dois anos e a negligência em relação aos aspectos psicológicos e comportamentais da doença pode ser um fator importante para explicar esta dificuldade na manutenção dos níveis corpóreos de gordura dentro dos limites considerados saudáveis, pois é conhecido, por exemplo, que depressão leve, ansiedade, angústia, estresse e carência afetiva podem levar a uma ingestão calórica excessiva.
Neste sentido, um aspecto básico importante é o profissional ficar atendo aos obesos, tentando entender suas aflições e como ajudá-los a superá-las. Indivíduos extremamente obesos, por exemplo, reportam comprometimento significativo na realização de atividades como andar, subir escadas, tomar banho e vestir-se (Larsson e Mattson, 2001), e tais dificuldades estão entre os aspectos mais angustiantes de sua obesidade (Duval, Marceau e Lescelleur, 2006).
A seguir outros aspectos relacionados aos aspectos psicológicos e comportamentais da obesidade:
- Para a sociedade, bebês devem ser gordos, pois lhes oferecem alimentos de forma indiscriminada a qualquer manifestação (Guimarães e Heller, 2003);
- Um dos motivos do açúcar gerar prazer é o fato do triptofano, matéria-prima da serotonina (neurotransmissor responsável pelo bem-estar), atingir o sistema nervoso central com mais facilidade quando associado à glicose (Contreras, 2004);
- Estudos realizados por Luiz et al. (2005) e Silva et al. (2002) mostram que a obesidade está ligada a distúrbios psicossociais, isolamento e rejeição pelos colegas, e dificuldades comportamentais, interferindo assim no relacionamento social, familiar e acadêmico, além de favorecer depressão, ansiedade e baixo rendimento escolar
- O excesso de peso traz também outras dificuldades, como timidez e problemas afetivos, e tais dificuldades impõem restrições às atividades rotineiras como ir à escola, fazer determinados exercícios físicos, procurar emprego, compra roupas, namorar e se divertir;
- Andrade (1995), em um estudo no ambulatório de Obesidade Infantil da Universidade Federal de São Paulo, de 134 crianças atendidas, verificou que 76,8% apresentavam razões emocionais importantes associadas ao surgimento e à evolução da obesidade;
- Campos (1993) identificou as seguintes características psicológicas em adultos obesos por hiperfagia: passividade e submissão, preocupação excessiva com comida, ingestão compulsiva de alimentos e drogas, dependência e infantilização, primitivismo, não aceitação do esquema corporal, temor de não ser aceito ou amado, indicadores de dificuldades de adaptação social, bloqueio da agressividade, dificuldade para absorver frustração, desamparo, insegurança, intolerância e culpa. No que diz respeito às crianças obesas, esta autora afirma ainda que elas são mais regredidas e infantilizadas; tendo dificuldades de lidar com suas experiências de forma simbólica, de adiar satisfações e obter prazer nas relações sociais, de lidar com a sexualidade, além de uma baixa auto-estima e dependência materna;
- Mulheres ingerem mais alimentos como mecanismo compensatório para questões emocionais do que os homens (Match et al., 2003);
- Há uma maior porcentagem de obesos com características de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) quando comparados com os adolescentes eutróficos. Uma das principais características do TDAH é a impulsividade, ou seja, falta de controle e dificuldade em adiar gratificações. Este resultado assemelha-se às principais características psicológicas de crianças e adolescentes obesos (Campos e Fisberg, 2004; Desidério e Miyazaki, 2007);
- A obesidade pode ter início em qualquer época da vida, mas seu aparecimento é mais comum especialmente no primeiro ano de vida, entre cinco e seis anos de idade, e na adolescência (Damiani, Carvalho, & Oliveira, 2000; Fisberg, 1995);
Referências:
ALBERTS, Bruce. Molecular Biology of the cell. Garland Science, 2002.
BRAY, George A. Handbook of Obesity: Clinical Applications. New York: Informa Healthcare, 2008.
MINE, Yoshinori. Nutrigenomics and proteomics in health and disease. Iowa: Willey Blackwell, 2009.
NELSON, David L. COX, Michael. Lehninger princípios de bioquímica. São Paulo: Sarvier, 2007
STRYER, Lubert. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.